Ciência-IUL
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Descrição Detalhada da Comunicação
• “Ver e Vigiar, o Olhar do Poder”
Título Evento
Governar as Margens: Justiça Criminal e Controlo Social no Mundo Contemporâneo
Ano (publicação definitiva)
2015
Língua
Português
País
Portugal
Mais Informação
Abstract/Resumo
“Governar as Margens: Justiça Criminal e Controlo Social no Mundo Contemporâneo”
Ver, vigiar,
A fotografia policial, na forma como foi definida por Bertillon nos anos 1880, e o Panoptico, modelo de construção utilizado em prisões, hospitais e escolas, correspondem à necessidade de olhar e de ver enquanto forma de vigiar.
Mais do que a necessidade de olhar e ver, correspondem a uma standartização e racionalização desse olhar.
A Bertillonage não é o início de retrato fotográfico enquanto instrumento de controle da população criminosa já que desde o início da fotografia que esta tinha vindo a ser utilizada como meio de identificação, em Portugal a fotografia de presos é obrigatória desde 1863. É, no entanto, uma forma de demarcar o retrato policial do retrato burguês, mostrando claramente a forma de exercício do poder. Também não é original na sua abordagem, a combinação do retrato frontal com o retrato de perfil, já que estes vinham a ser utilizados, desde meados do século XIX, em fotografia antropológica.
Nos povos “exóticos” procurava-se, por meio da fisionomia, provar a inferioridade em relação ao colonizador, nos retratos de criminosos a questão é provar a tendência para o crime por meio das características fisionómicas.
O retrato policial “pré-bertillon” terá coexistido com uma utilização comercial dos retratos de criminosos famosos, ou de “tipos de criminosos”, da mesma forma que esses processos de comercialização também se aplicavam a povos exóticos ou até a escravos.
As fotografias de criminosos e antropológicas, convergem na forma de olhar. É um olhar racional e científico, mas que simbolicamente é uma parte importante da repressão em si já que tende para a coisificação e para a desumanização.
É um olhar que exerce poder, o poder do observador sobre o observado, o poder do fotógrafo sobre o fotografado. É um olhar activo sobre um sujeito passivo, sendo a própria consciência de ser observado um aspeto fundamental desta relação de poder.
É esse olhar do poder que também existe no panoptico, com o qual se pretende facilitar o controle sobre populações potencialmente incontroláveis e que naquele tipo de edifício estão sob a possibilidade permanente de ser observados, sem que disso tenham consciência.
Este olhar e este controle foi passando das margens da sociedade para a sociedade em geral, com a instituição dos cartões de identificação com fotografia obrigatória.
Em Portugal, por volta de 1910 aplica-se o modelo prisão noutros edifícios, como os mais antigos liceus de Lisboa e Porto, que não correspondem ao modelo rigoroso do panoptico circular que se encontra, por exemplo, na penitenciária de Lisboa, mas estão bastante próximos dele.
A utilização da imagem enquanto instrumento de vigilância foi-se adensando no final do século XX com a vídeo vigilância, com a presença de câmaras em muitos locais, com os radares de transito (uma nova população que é preciso controlar) finalmente com o assumir da Bertillonage nos retratos de identificação, tal como aconteceu em Portugal a partir de 2007.
Agradecimentos/Acknowledgements
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Palavras-chave
História, cultura visual, vigilância, sistema prisional