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Amorim, V. (2015). Fluidez e incerteza na comunidade piscatória setubalense: um património em risco de decadência?. O Mar como Património Cultural e Natural.
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V. I. Amorim,  "Fluidez e incerteza na comunidade piscatória setubalense: um património em risco de decadência?", in O Mar como Património Cultural e Natural, 2015
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	year = "2015"
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TY  - CPAPER
TI  - Fluidez e incerteza na comunidade piscatória setubalense: um património em risco de decadência?
T2  - O Mar como Património Cultural e Natural
AU  - Amorim, V.
PY  - 2015
AB  - A aleatoriedade e incerteza, como vários autores mostraram é a característica mais
marcante das actividades relacionadas com a pesca/mar. O mar é um recurso comum e,
por isso, tem projectado em si vários interesses económico-financeiros de diferentes
grupos. O sistema económico-financeiro também é caracterizado pela sua incerteza e
instabilidade e, como Bauman argumenta, as transacções parecem caracterizar cada vez
mais as relações que as pessoas estabelecem entre si.
O desenvolvimento da cidade de Setúbal deu-se a par com o desenvolvimento da
actividade piscatória. Hoje em dia, a actividade piscatória tem perdido expressão na
cidade quer a nível económico quer a nível de valorização sociocultural. Pescadores
sentem-se à margem da sociedade não vendo os seus interesses representados nos
organismos públicos. Vivem na incerteza ecológica inerente à captação de recursos e na
instabilidade económico-financeira devido à flutuabilidade do mercado. No seu
quotidiano a incerteza emerge e os seus actores associam-na às mudanças impostas
pelas políticas comunitárias das últimas décadas e, por sua vez, a essas mudanças é
associada uma ideia de decadência do sector. A incerteza está “institucionalizada” no
quotidiano dos pescadores que tentam estabilizar o que é instável através de pequenos
mecanismos de resistência3 ou através de discursos que culpabilizam quem consideram
responsáveis. Os discursos e narrativas que tentam dar significado a essa incerteza
revelam algumas contradições que traduzem uma descapacitação para o entendimento
da dinâmica do seu meio e da sua actividade que vai além das fronteiras do local, inserindo-se num contexto amplo de relações de poder e de interesses a nível global. Na
visão dos pescadores, mar e a pesca simbolizam o passado de crescimento em Setúbal
contudo hoje não têm futuro, o sector piscatório vive um presente liminar e pescadores e
suas famílias têm consciência de que a profissão e modo de vida não estão a ser
reproduzidos. Porém, em Setúbal a pesca é utilizada como um meio indirecto de
marketing: Setúbal é “vendida” como cidade de peixe e de pescadores. No entanto, este
marketing não parece minimizar as dificuldades que o sector atravessa além de que as
instituições públicas parecem estar um pouco à margem desta decadência percepcionada
pelos pescadores. Os pescadores, por sua vez, tentam apropriar-se destes discursos de
marketing evocando conceitos de tradição e património para legitimarem a sua
existência e revindicarem mais apoios defendendo como a pesca pode ser importante em
termos turísticos. Mas estes discursos são intermitentes com o desejo directo de
sustentabilidade e de querer preservar uma profissão que lhes marca profundamente
uma identidade ocupacional mas sem um grande conhecimento sobre processos de
patrimonialização. Os conceitos de património e de tradição surgem como mais um
possível mecanismo de sobrevivência a que os pescadores recorrem nos discursos.
Esta comunicação pretende constituir-se como um exercício de reflexão sobre qual o
lugar da pesca artesanal e de pequena escala num meio disputado por interesses que se
têm revelado hegemónicos e como os seus actores percepcionam o estado actual do
sector e como dão significado às mudanças. Além disso, esta comunicação pretende
esboçar como vão emergindo conceitos de património e tradição por parte de pescadores
para uma valorização da sua profissão que económica e ecologicamente é cada vez
menos sustentável. Como se adaptam os pescadores à teia de mudanças ocorridas no
meio onde vivem? Como pescadores ancorados na sua localidade vêem processos de
mudança que parcialmente lhes são externos? Como convivem com a incerteza e fluidez
nos seus quotidianos? Como há a tentativa de utilização do passado como meio
legitimador da actividade exaltando o seu caracter tradicional? Estas questões
emergiram de um terreno complexo onde os problemas da pesca como a escassez de
recursos, a crescente fiscalização, a perda de importância económica se interligam
havendo a evocação do passado como legitimador de uma actividade tradicional de
modo a garantir o seu futuro, estes discursos emergem num presente incerto
assombrado com a ideia de fim e de decadência.

ER  -