A pandemia expôs-nos a um contexto de risco global sem precedentes. A experiência da suspensão da vida social, e as transformações que dela resultaram, fez com que testemunhássemos um dos grandes marcos da história da humanidade no século XXI (Quintanilha, et al). Convocando a ideia de metamorfose do mundo, de Ulrich Beck (2016), a pandemia pode ser entendida como um risco global que nos deixou perante um sentimento de insegurança, sem que dispuséssemos dos dispositivos necessários para o enfrentar. Este risco confrontou-nos com a forma como a incerteza ameaça a nossa própria existência, com impactos diretos nas várias esferas da vida social. Reconhecendo a importância e a oportunidade únicas de registar esta suspensão e estas transformações na primeira pessoa, no âmbito da componente prática da unidade curricular de Métodos e Técnicas de Investigação (qualitativa) em Ciências Sociais, lecionada na Licenciatura de Educação Social, na qual foram recolhidas 40 narrativas de vida. Estas narrativas tiveram como foco o registo da forma como estava a ser vivido e experienciado o primeiro confinamento nacional imposto pela pandemia SARS-CoV-2. Mobilizando uma abordagem qualitativa, e em linha com a perspetiva etnossociológica de Daniel Bertaux (2020), o desenho da ferramenta metodológica procurou captar os múltiplos constrangimentos impostos pelo confinamento, bem como as estratégias dos/as estudantes, das suas famílias e das suas redes de sociabilidade, seja entre pares, seja em contextos profissionais. Esta proposta de comunicação resulta da reflexão metodológica em torno da adaptação do instrumento etnossociológico (Bertaux) a um contexto que, numa primeira instância, parece representar a antítese do pressuposto da abordagem qualitativa. A utilização da modalidade online, em algumas técnicas de investigação (Bryman, 2016), não constitui uma novidade, reconhecendo-se vantagens e limitações, quer no tipo, quer na qualidade das informações recolhidas. No caso desta investigação, a inovação metodológica extravasou a forma como o online tem vindo a ser utilizado, uma vez que, ao mesmo tempo que os/as estudantes se constituíram como objetos de estudo, tornaram-se também ferramentas metodológicas da investigação (orientados/as pelas docentes/investigadoras). Assim primou-se por uma lógica de narrativa autobiográfica, suportada pela recolha de um conjunto diverso de elementos: textuais, fotográficos e audiovisuais. Pretende-se, desta forma, apresentar o conjunto de ferramentas metodológicas desenvolvidas no âmbito desta investigação, refletindo sobre suas as potencialidades e limitações, mas sobretudo sobre a oportunidade, encontrada na anomia e na incerteza do contexto pandémico, de inovação e desenvolvimento metodológicos.

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métodos qualitativos,abordagem biográfica,perspetiva etnosociológica,inovação metodológica