Comunicação em evento científico
Estruturas Socio-Espaciais Comuns nos Povoados Piscatórios: Os Palheiros do Litoral Central a as Aldeias Avieiras do Tejo
Vânia Teles Loureiro (Loureiro, Vânia); Rosália Guerreiro (Guerreiro, Maria Rosália); Valério Augusto Soares de Medeiros (Medeiros, Valério);
Título Evento
Fórum Fronteiras Urbanas e Encontro APOCOSIS 2013
Ano (publicação definitiva)
2013
Língua
Português
País
Portugal
Mais Informação
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Abstract/Resumo
Os povoados piscatórios que em meados do século XIX cobriam vastas áreas das praias do norte ao centro do país e que se conhecem como os “Palheiros do Litoral Central” (Oliveira, Ernesto; Galhano, Fernando, 1964) apresentam características físicas, sociais e culturais muito semelhantes. Muito observados do ponto de vista sociocultural, conhece-se a relação entre estes e os movimentos migratórios característicos das comunidades piscatórias ao longo desse século (e meados do anterior) pelo país – do norte ao sul – em busca de sustento. Esta situação promove a dispersão de um grupo cultural muito específico, bem como das suas técnicas e hábitos de trabalho (a arte da Xávega por exemplo), formas de habitação e sociabilização. E é esta forte influência que se sente ao observar os assentamentos Avieiros ao longo do rio Tejo. As conhecidas dificuldades de sustento, pela rebeldia de um mar que de inverno condicionava a pesca, leva os pescadores da Vieira de Leiria a procurarem a calma do Tejo e a sua abundancia de peixe, ainda durante o século XIX. Uma migração sazonal começa a transformar-se em presenças constantes no rio (em grande parte devido aos custos associados a tais deslocações) e de barcos-casas se fazem aldeias palafitas. As técnicas de pesca próprias desta comunidade ocupam o Tejo e com elas a forma de construir. Apesar da mudança de contexto físico, a cultura construtiva prevalece, destacando-se claramente das formas e métodos ribatejanos (ressalvando as semelhanças contextuais também, pois as palafitas poderiam já não servir para evitar os fortes ventos com areias, mas seriam ideais para manter as casas seguras dos vários níveis do rio, daí manter-se a sua utilidade). O que este estudo pretende essencialmente é analisar a morfologia dos assentamentos e explorar as suas semelhanças, suas estruturas socio-espaciais comuns. Por outras palavras procura-se a relação entre padrões espaciais, vida social e vida social deste espaço. A caracterização do contexto físico permite o reconhecimento das tendências formais do espaço. Mas a observação da evolução do sistema construído, permite a confirmação de estarmos perante espaços orgânicos emergentes, resultantes das regras da auto-organização, que mesmo não sendo previsíveis correspondem a um padrão específico de desenvolvimento. A análise da complexidade do sistema utiliza a Teoria da Lógica Social do Espaço ou Sintaxe Espacial (Hillier & Hanson, 1984) e das suas técnicas analíticas que permitem a análise de relações, ou seja da configuração espacial através de medidas topológicas. Definem-se como casos de estudo dos Palheiros do Litoral: Costa de Lavos, Praia da Tocha e Leirosa; das Aldeias Avieiras: Escaroupim, Palhota e Lezirão. Formando-se uma amostra representativa do que são estes assentamentos procede-se a uma análise normalizada que permitirá compará-los. As medidas sintáticas a utilizar serão a Conectividade, Integração, Inteligibilidade, Sinergia, entre outras. Estas possibilitarão a leitura do espaço quanto ao seu desempenho e quanto à sua potencialidade. Trata-se de medir quantitativamente a especificidade das relações espaciais existentes e com isso comprovar a existência de padrões comuns nestas estruturas. Interessa também comparar estas mesmas estruturas em períodos diferentes de tempo, tendo em conta as mudanças a que já foram sujeitas. Comparando a situação original com a situação atual é possível observar a expansão da malha urbana e a perseverança da formalidade pré-existente. Apesar de crescerem, não só foram mantidos os seus padrões formais iniciais como estes se propagam a uma maior escala (‘free scaling’ é uma propriedade que se reconhece nas complexas estruturas fractais por poderem ser observadas a diferentes escalas mantendo a sua forma ou comportamento) reforçando a convicção de que estes assentamentos se formam e desenvolvem através de um tipo de ordem implícito e orgânico. Segundo Hillier (1989) o espaço rege-se por três tipos de leis: as “leis do objeto urbano em si”, inerentes a si próprio e pelas quais este se vai construindo; as “leis da sociedade para o objeto” que representam a forma como a sociedade condiciona o espaço, criando uma estreita (co)relação com as primeiras; e as “leis do objeto para a sociedade”, quando este é estruturado com o propósito condicionar a utilização e comportamentos no espaço. Aqui interessam essencialmente os dois primeiros tipos de leis identificadas, bem como conseguir perceber essa correlação entre ambas no espaço. É na relação entre os dois primeiros que se caracterizam estas estruturas, daí referi-las como socio-espaciais. Sendo possível esta confrontação de valores e princípios, será possível descrever o que conforma especificamente o espaço dos Palheiros do Litoral Central (ou das Aldeias Avieiras), bem como identificar as características responsáveis pela reformulação (principalmente arquitetónica) dos mesmos ao longo do tempo sem intervir com as relações implícitas. Esta condição fundamenta o princípio da evolução dos espaços sem que haja prejuízo para a sua Identidade – as características inerentes às relações socio-espaciais mantém-se e expandem-se, enquanto a forma e materialidade dos seus edifícios se vai alterando.
Agradecimentos/Acknowledgements
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Palavras-chave
Sintaxe Espacial; Complexidade urbana; Povoados piscatórios