Artigo sem avaliação científica
As danças e as canções dos gaudde católicos de Goa: O testemunho da resistência invisível ao colonialismo Português através da sua tradição oral, agora folclorizada
Cláudia Pereira (Pereira, C.);
Título Revista
Camões
Ano (publicação definitiva)
2010
Língua
Português
País
Portugal
Mais Informação
Web of Science®

Esta publicação não está indexada na Web of Science®

Scopus

Esta publicação não está indexada na Scopus

Google Scholar

N.º de citações: 2

(Última verificação: 2024-04-18 23:10)

Ver o registo no Google Scholar

Abstract/Resumo
Muito antes de os portugueses chegarem a Goa, já os Gaudde cantavam e dançavam solicitando protecção a uma entidade espiritual que vivia no território à volta das suas casas. Todavia, o que tem sido privilegiado na descrição da cultura goesa é o património cultural da elite, onde se nota uma influência portuguesa, ausente para os Gaudde. Paralelamente, como modo de contestação ao colonialismo português, algumas formas culturais de grupos socialmente desprivilegiados foram continuadas em segredo (devido à repressão da igreja católica de tudo o que não fosse cristão). Um destes grupos foi o dos Gaudde católicos, tendo as suas artes performativas, aparentemente pré-portuguesas, sido mantidas e reinventadas criativamente desde há cerca de quatro séculos. As suas danças e músicas são ainda hoje semelhantes às dos Gaudde hindus, o grupo a que pertenciam antes de convertidos, e, por isso, as letras das suas canções têm de ser lidas à luz da lógica ritual hindu, embora os nomes de deuses tenham sido substituídos por santos cristãos. Aqui reside uma das singularidades dos Gaudde católicos de Goa. As suas artes performativas actuais não se resumem à perpetuação da tradição oral, onde predominam narrativas religiosas hindus e cristãs, e descrições da vida quotidiana na agricultura, integram também referências aos processos contemporâneos de adaptação social, económica e política. Na passagem para o século XXI, os Gaudde católicos são chamados a apresentar as suas danças aos turistas e em eventos sociais, como representação da cultura «autêntica» de Goa, traduzida como «pré-portuguesa». Este reposicionamento das tradições em práticas turísticas enquadra-se num processo de folclorização que, estimulado pelo governo, teve lugar não só em Goa, como por toda a Índia. Todavia, a imagem de Goa que predomina na Índia e no estrangeiro é a que dá forte ênfase à sua herança colonial portuguesa, nomeadamente a arquitectura e práticas musicais e alimentares, para além das praias paradisíacas e das festas de música trance organizadas por hippies que supostamente encontraram um lugar onde o tempo parou. Torna-se então uma ironia histórica os Gaudde católicos serem chamados a hotéis, solares, eventos do estado e a templos hindus para mostrarem a cultura «autêntica» de Goa, quando justamente as suas tradições foram meios passivos de resistência à administração colonial portuguesa.
Agradecimentos/Acknowledgements
--
Palavras-chave
Artigo interactivo com som e video,Colonialismo português,Conversão,Património imaterial,Católicos e Hindus,Tradição oral,Portuguese colonialism,Conversion,Immaterial heritage,Catholics and Hindus,Oral tradition,Interactive paper with sound and video