Comunicação em evento científico
'Aqui é tudo junto e misturado'. Estética e identidade entre os b-boys de uma favela carioca
Otávio Raposo (Raposo, Otávio);
Título Evento
IX Congresso Ibérico de Estudos Africanos (CIEA9)
Ano (publicação definitiva)
2014
Língua
Português
País
Portugal
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Abstract/Resumo
O movimento hip hop constitui um ótimo meio de institucionalização das etnicidades dos setores mais oprimidos. Fortemente associado a uma cultura negra transnacional, o hip hop é conhecido mundialmente por carregar consigo noções etnicizantes que advêm do seu processo de culturalização. Sem descurar as características de hibridez, pluralidade e impureza que sempre acompanharam este fenómeno cultural, não se deve menosprezar o movimento cultural e político desenvolvido pelos artistas do hip hop no combate ao racismo e por melhores condições de vida. Daí ser comum a grupos de praticantes utilizar as suas expressões artísticas para afirmar identidades étnico-raciais, enquanto denunciam uma vida de opressão. Este não era o caso dos dançarinos de break dance das favelas da Maré (Rio de Janeiro), cuja relativa indiferença aos problemas associados à cor da pele demorei a compreender. O break dance não era apropriado por estes dançarinos como modo de afirmação da negritude, nem tampouco faziam do estilo um instrumento de luta contra o racismo, assunto raramente debatido entre eles. Surpreendeu-me o facto de muitos daqueles que se autodefiniam como negros não assumirem a ascendência africana. A identidade negra que construíam era destituída da orientação para um passado mítico ou da sensação de partilhar uma comunidade de parentesco. Inúmeras vezes ouvi os b-boys da Maré dizerem ‘aqui é tudo junto e misturado’, e nas entrevistas realizadas havia uma clara exaltação de um Brasil mestiço. Contrariavam os ideais de pureza ao engrandecerem a miscigenação e hibridez de que todos os brasileiros seriam, supostamente, herdeiros, uma perspetiva que também expressava a vontade de viverem numa sociedade menos preconceituosa e mais justa. Não obstante, b-boys e b-girls mobilizavam uma estética negra através da roupa e penteados ‘afro’, apropriando-se do hip hop como forma de reclamar direitos e subverter o baixo estatuto a que eram associados.
Agradecimentos/Acknowledgements
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Palavras-chave
juventude, identidade, estética, etnicidade, negritude, hip-hop