Comunicação em evento científico
‘Travesti’: Insulto ou Identidade?
Sandra Palma Saleiro (Saleiro, Sandra Palma);
Título Evento
IX Congresso Português de Sociologia
Ano (publicação definitiva)
2016
Língua
Português
País
Portugal
Mais Informação
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Abstract/Resumo
Na sociedade portuguesa a vivência de género fora da prescrita no tradicional sistema binário dos dois sexos/géneros é ainda um fenómeno social invisível e desconhecido. Ao nível das ciências sociais, e especificamente na sociologia portuguesa, só muito recentemente começou a ser objeto de interesse. Uma das pesquisas pioneiras na exploração deste objeto foi o projeto “Transexualidade e Transgénero: Identidades e Expressões de género”, desenvolvido no CIES-IUL, com financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. O estudo, que implicou entrevistas em profundidade, inquéritos por questionário e incursões etnográficas em espaços frequentados por pessoas de expressão trans, permitiu mapear uma diversidade de identificações de (trans)género, entre as quais a de “travesti”. Na língua e cultura portuguesas, o termo “travesti” é um dos mais tradicionalmente utilizados para sinalizar o fenómeno de expressão de uma identidade de género fora dos moldes socialmente expectáveis face às características biológicas (“sexo”) de determinado indivíduo. Foi, no entanto, diminuto o número de pessoas que reivindicou essa como sua identidade de género no presente, sendo frequente as que a rejeitaram ou dela se demarcaram. A utilização leiga da palavra para designar uma amálgama indiferenciada de pessoas “estranhas” em termos de género (e até de orientação sexual), funcionando muitas vezes como um insulto, bem como as próprias características do modo de transgénero coberto por este termo nos espaços trans, são fatores que contribuem para essa rejeição. Trata-se de um modo híbrido de vivência de género, uma expressão da feminilidade que não oculta partir de um corpo de macho, como se houvesse uma “feminilidade específica dos machos” ou “um feminino diferente, uma outra possibilidade de feminino” (Silva, 1993), que “contempla em si também o masculino” (Benedetti, 1997), situando-se à margem do sistema dicotómico de género e do aceitável para o transgénero. Assim, as “histórias travesti” parecem ter-se tornado “histórias indesejáveis” (Ekins e King, 2010), a partir do momento em que o discurso sobre a transexualidade se tornou dominante e legitimador das identidades trans “aceitáveis”. E, nesse sentido, ou são silenciadas ou são denegridas, servindo apenas para uma comparação com aquilo que se não é ou se não deve ser, funcionando estrategicamente como alteridade da transexualidade. E é bastante clara, na realidade portuguesa, a demarcação das próprias pessoas transexuais, dos/as clínicos/as e até de parte do movimento associativo, a este “mal-afamado”, e/ou contraproducente politicamente, modo de transgénero. Nesta comunicação pretende-se, pois, refletir sobre o “travesti”, na sua dupla vertente de insulto e de identidade.
Agradecimentos/Acknowledgements
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Palavras-chave
Identidade de género; Travesti; Transexual; Transgénero