Nesta comunicação serão analisadas duas entrevistas biográficas realizadas com jovens negras que, apesar de condições socioeconômicas adversas de partida, realizaram percursos de escolarização bem-sucedidos e ingressam no curso superior de medicina, num caso no Brasil, noutro em Portugal. Através de uma perspectiva transatlântica sobre duas histórias de vida de sujeitos com características e percursos semelhantes em dois contextos nacionais e institucionais diferenciados, será possível identificar os múltiplos constrangimentos e recursos utilizados na construção das suas biografias, e as condições e redes de possibilidades e impossibilidades que as envolvem. A análise permitirá ainda explorar os limites e potencialidades dos métodos de pesquisa biográfica na sociologia. Como exemplo da reconfiguração e alargamento dos públicos da educação superior em ambos os países, estas estudantes articulam na sua experiência uma multitude de marcadores de desigualdade: a pobreza, a negritude, o gênero. Ambas realizaram trajetórias de contratendência. A reconstituição da experiência das estudantes permitirá observar a articulação e a intersecção de respostas agenciais, individuais e familiares, com as condições estruturais, nomeadamente as políticas públicas dirigidas ao alargamento da base social nas universidades, em cada um dos países.

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