O automóvel desempenha, sem dúvida, um papel de grande importância na civilização ocidental. Mas chegámos a um ponto em que necessariamente nos interrogamos e ponderamos nos prós e nos cada vez mais contras do seu uso. Por isso ainda há bem pouco tempo tivemos em várias centenas de cidades europeias um "dia sem carros". Mas não é só o problema da poluição do ambiente. Os motores cada vez mais potentes e a quantidade de carros nas estradas tornaram-nas numa autêntica guerra civil, que diariamente causa várias baixas, não escolhendo sexo ou idade. Manuel João Ramos perdeu a sua filha num estúpido (como são aliás todos) desastre no IP5, abalroado por um camião TIR. Depois disso escreveu uma série de textos no jornal "O Independente", "reflexões várias sobre o trágico namoro nacional com o pedal do acelerador rodoviário", "os efeitos devastadores que uma descontrolada invasão automóvel causou na (sua) cidade natal". São esses textos, acompanhados de desenhos do próprio e de Alexandre Conefrey, que estão reunidos neste livro, cujos lucros revertem a favor de uma associação que ajudou a fundar, a Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados, que tem por fim a mobilização e o alerta para as coisas que em nome do progresso nos estão a matar súbita ou lentamente, em todo o caso cada vez mais depressa. Um livro pungente e necessário. Porque é necessário que algo mude.

--

Estradas,Portugal,Acidente rodoviário