O Corno de África, onde se incluem alguns dos estados mais frágeis do mundo, tem sido afetado por instabilidades políticas recorrentes, expressas em rebeliões e conflitos violentos. Os conflitos no Corno de África, que perduram há décadas e envolvem dimensões étnicas e religiosas marcantes, colocam frequentemente Estados e intervenientes paraestatais contra atores não estatais. Em particular, a politização e a polarização baseadas em fatores identitários têm tido um papel crucial na luta política e na (re)configuração dos conflitos intra- e interestaduais que afetam a sub-região. O Corno de África evidencia ser um contexto especialmente apropriado para investigar a dinâmica política e de conflito por intermédio da análise das múltiplas relações entre diversos intervenientes, especialmente em contextos em que o espaço para o diálogo político e para a busca de soluções pacíficas é limitado e as identidades subalternas são politicamente marginalizadas ou não reconhecidas. Como tal, oferece um cenário relevante para a compreensão da perpetuação das tendências atuais dos conflitos políticos. O projeto centra-se nos casos da Etiópia, Eritreia e Somália (Somalilândia), que são centrais para a compreensão do nexo entre política e violência no Corno de África. Propondo um diálogo interdisciplinar entre a ciência política e a antropologia, procura produzir novo conhecimento sobre a dinâmica da violência política nos três estados e internacionalmente, dentro e fora do Corno de África. Contribui assim para uma compreensão mais geral da interligação entre fatores internos e externos da política e violência em África e não só.
Este projeto de investigação exploratória foca-se nas relações entre atores estatais e societais em que se manifesta violência política, e como essas relações são afetadas tanto pela dinâmica histórica e cultural doméstica como por fatores geopolíticos. Em particular, a investigação examina a relação entre intervenientes estatais e atores societais com identidades regionais (ex. organizações políticas, como partidos, grupos insurgentes e movimentos populares) na Etiópia, Eritreia e Somália (Somalilândia). Estas tendências tornaram-se particularmente evidentes nos conflitos atuais nestas três países, e oferecem uma oportunidade única para compreender como as dinâmicas políticas evoluem e como a violência política pode ser mitigada. Mais especificamente, com base em análises prévias que evidenciam que a religião tem emergido em complemento ao nacionalismo étnico como força radicalizadora e mobilizadora de base identitária, o projeto investiga o papel desta em conflitos. Tais padrões são significativos no Corno de África, região que mostra também ser uma área de investigação relevante para abordagens baseadas em estudos de caso e para desenvolver ferramentas analíticas aplicáveis à análise e compreensão do conflito político em geral.

O objectivo principal do projecto é recolher e analisar dados novos e recentes sobre os actuais processos e manifestações de violência política e compreender especificamente o papel dos actores e das forças internas e externas, incluindo políticas de identidade, descontentamento popular e preocupações de segurança. Isto é particularmente útil para obter uma melhor compreensão dos padrões e dinâmicas atuais da violência política, prever e tomar medidas para os abordar de forma construtiva. O projeto visa, portanto, fornecer instrumentos de análise relevantes para capacitar a resolução de conflitos e construir cenários sobre as possíveis trajetórias futuras da política, da violência política, e de considerações geopolíticas.

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