Na última década, temos testemunhado um aumento gradual e notável na identificação com a bissexualidade e a não-binariedade, indicando uma evolução na concepção da identidade sexual e de género nas sociedades ocidentais. Na Europa do Sul, caracterizada por um legado histórico, político e sociocultural único, é importante reconhecer que os desafios enfrentados pela população bissexual têm sido insuficientemente abordados. Especificamente, no contexto das relações de intimidade, observamos que, se por um lado podem mitigar o impacto negativo da binegatividade e funcionar como um espaço seguro também podem amplificar seus efeitos. Neste estudo qualitativo, fundamentado na psicologia crítica das sexualidades, exploramos como pessoas bissexuais negociam sua identidade sexual nas relações intimas e como a binegatividade se manifesta nesse contexto. Realizamos 16 entrevistas individuais semiestruturadas em Portugal e utilizamos uma análise temática abdutiva (Thompson, 2022), permitindo identificar três grandes temas: (i) "É seguro?": a visibilidade pública da identidade bissexual; (ii) experiências genderizadas de binegatividade; e (iii) representações sociais da bissexualidade. Os resultados destacam a presença de um regime in/visibilidade relativamente à bissexualidade e a complexidade das relações de intimidade da população bissexual no dia a dia, especialmente nos relacionamentos com pessoas monossexuais. Discutimos as implicações desses resultados para a população bissexual, incluindo implicações para a prática clínica, intervenção comunitária e políticas públicas. Além disso, apresentamos limitações do estudo e sugestões para futuras pesquisas.

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