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Baptista, V. & Marques Alves, P. (2023). A Revolução no contexto local: o estudo de caso da alfabetização de adultos no bairro dos Olivais Sul, em Lisboa. VII Congresso de História Local.
V. Baptista and P. J. Alves, "A Revolução no contexto local: o estudo de caso da alfabetização de adultos no bairro dos Olivais Sul, em Lisboa", in VII Congr.o de História Local, Lisboa, 2023
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TY - CPAPER TI - A Revolução no contexto local: o estudo de caso da alfabetização de adultos no bairro dos Olivais Sul, em Lisboa T2 - VII Congresso de História Local AU - Baptista, V. AU - Marques Alves, P. PY - 2023 CY - Lisboa AB - Em 1970, a nível nacional, o analfabetismo entre os maiores de 7 anos era de 30,7% nas mulheres e de 19,7% nos homens. Durante as décadas de 50 e 60, a cidade de Lisboa recebeu muitos migrantes oriundos dos campos devido à pobreza em que as famílias viviam. Nesta apresentação pretendemos dar conta da experiência vivida durante a Revolução, com a Alfabetização de Adultos. Devido aos Planos de Fomento II (1959-1964) e III (1968-1973), há uma viragem para a industrialização em cidades como Lisboa, principalmente na indústria siderúrgica, refinação de petróleos, adubos, indústrias químicas (Rollo, 1994), sendo a partir dos anos 60 que Portugal deixa de ser um país com uma população ativa maioritariamente rural. O estudo de caso que nos propomos abordar incide sobre o bairro dos Olivais Sul, que começou a ser construído em 1959, prevendo o plano de urbanização prédios, comércio, escolas, igrejas e espaços verdes. Pretendia-se uma arrojada conceção de integração social, nem sempre bem-sucedida. Os Olivais enquadravam-se, então, na cintura industrial de Lisboa, concentrando um grande número de operários, homens e mulheres. Destacamos fábricas como a UTIC (automóveis e camiões), Barros (têxteis), Tabaqueira, SACOR (refinação de petróleo), Fábrica Alves Gouveia (têxtil), EPAL (captação e distribuição da água), Bruno Janz (contadores), DIALAP (diamantes), entre outras. Existiam escolas primárias desde a fundação do bairro e o liceu D. Dinis, edificado no bairro contiguo de Chelas, que foi inaugurado no ano letivo de 1972-1973 e possuía características inovadoras, vingando a coeducação na formação das turmas e a ausência do uso de batas pelas raparigas. Abriam-se, assim, as portas a uma modernização educativa, na relação de sexos e a culturas importadas da restante Europa, principalmente de Paris. Na população dos Olivais havia um elevado número de analfabetos/as. Após o 25 de Abril, principalmente nos anos de 1975 e 1976, acompanhando as Campanhas de Alfabetização de Adultos, também no bairro se iniciou a alfabetização conduzida por jovens, essencialmente raparigas, que frequentavam o liceu D. Dinis. Deve notar-se que estes/as jovens eram ainda menores e as raparigas deslocavam-se à noite para dar as aulas, com poucos transportes públicos, não sendo até aí habitual as raparigas e as mulheres ocuparem o espaço público noturno, devido a questões de assédio masculino. As aulas decorriam num edifício escolhido para o efeito, juntando-se principalmente mulheres, e seguindo-se o método de Paulo Freire, sob a orientação da Direção Geral de Educação Permanente, que fornecia os materiais, e com a qual existiam reuniões informais. As pessoas que frequentavam as aulas pretendiam, em primeiro lugar, saber assinar o nome (muitas tinham vergonha de colocar o dedo numa tinta preta e deixar a marca da impressão no documento, como então se fazia) e conhecer as direções dos autocarros. Muitos/as confidenciavam que a utilização do lápis era difícil porque o achavam demasiado leve relativamente aos seus utensílios de trabalho, usados primeiro nos campos e depois nas fábricas ou noutros trabalhos. Nestes dois anos mais intensos da Revolução, algumas pessoas conseguiram concretizar os seus objetivos de aprenderem a escrever e a ler. Esta alfabetização de adultos teve várias consequências para todos os intervenientes. Primeiro, contribuiu para uma sociedade mais igualitária, proporcionou a aproximação e diálogos entre jovens de liceu e pessoas adultas com diversas profissões, iniciando uma consciência social e política. Permitiu, também, mostrar a valorização da educação como um meio para a autonomia pessoal e a melhoria das condições de vida. Sem dúvida que na memória pessoal e histórica do bairro (a maioria dos alfabetizados/as já faleceu) ficou uma marca indelével de democracia e de cidadania. ER -