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Dores, A. (2015). Ciências Sociais e Bem Viver. Colóquio Internacional Epistemologias do Sul: Aprendizagens Globais Sul-Sul, Sul-Norte e Norte-Sul. 1, 275-292
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A. P. Dores,  "Ciências Sociais e Bem Viver", in Colóquio Internacional Epistemologias do Sul: Aprendizagens Globais Sul-Sul, Sul-Norte e Norte-Sul, Coimbra, vol. 1, pp. 275-292, 2015
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@misc{dores2015_1713441193767,
	author = "Dores, A.",
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	year = "2015",
	howpublished = "Ambos (impresso e digital)",
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TY  - CPAPER
TI  - Ciências Sociais e Bem Viver
T2  - Colóquio Internacional Epistemologias do Sul: Aprendizagens Globais Sul-Sul, Sul-Norte e Norte-Sul
VL  - 1
AU  - Dores, A.
PY  - 2015
SP  - 275-292
CY  - Coimbra
UR  - http://alice.ces.uc.pt/coloquio_alice/wp-content/uploads/2015/08/Livro_DD.pdf
AB  - O Bem Viver e os direitos da natureza, que Acosta (2013) preconiza estabelecer contra 
as  políticas  extractivistas,  não  são  fundamentos  de  uma  política  de  desenvolvimento 
alternativo: são uma proposta para substituir globalmente a ideia de império explorador 
em nome de sincretismos entre humanos e a natureza.
As ciências sociais e humanas, tal como ocorreu nos anos setenta, estão a ser alvo de 
transformações  profundas,  seja  para  acompanhar  as  transformações  sociais  em  curso, 
seja para se reposicionarem profissionalmente para as próximas décadas. Também elas 
terão de escolher entre a manutenção de um lugar periférico no concerto das ciências ou, 
em vez disso, assumirem o desígnio de se tornarem ciências como as outras, juntando-se 
às ciências da natureza.
É desejável e possível aliar estas duas dinâmicas de transformação?
Nas actuais circunstâncias históricas, nada é mais distante do que a luta amazónica dos povos andinos pelo Somak Kawsay (Bem Viver) e a luta dos investigadores sociais pela actualização e revalorização das teorias sociais. Uns não têm possibilidades de ir à escola, e quando o podem fazer é para aprender a língua, a cultura e o desprezo semi-milenares dos seus opressores. Outros são um resultado muito elaborado da mesma escola que excluiu os primeiros. Todavia há sociólogos e economistas, como Boaventura Sousa Santos ou Alberto Acosta, capazes de se inspirarem, admirar e estudar as contribuições epistémicas herdadas pelos povos sobreviventes das políticas de Terra Nula. 
Estas políticas de Terra Nula legitimaram, à partida, os direitos de conquista, os genocídios e a exploração dos europeus nos territórios por si almejados fora da Europa. E marcaram até hoje os programas de colonização, desenvolvimento e globalização, sucessivamente, com a equiparação dos povos não europeus a animais e à natureza em geral. Todos forçados a estarem à disposição para usufruto e exploração dos cristãos, por desígnio divino. Somos os herdeiros dessas políticas, que urge redefinir com o respeito devido a toda a gente (Honneth, 2007; Palidda, 2011). O que ainda não é o caso. 
A transformação social em marcha actualmente na Europa e nos EUA, sedes das teorias sociais, implicarão necessariamente mudanças na forma de pensar a humanidade e fazer ciências sociais. Se essas mudanças forem transformadoras dos modos de conhecer no ocidente – como pode acontecer – isso pode beneficiar também os povos andinos, em luta contra as políticas extractivistas por eles denunciadas. Pelo que é de interesse desses povos que essa transformação seja feita aqui, por nós. E através do avanço e recuo das políticas extractivistas nos Andes, poderemos ficar a saber se aquilo que entendermos ser as boas transformações das teorias sociais estarão ou não a ter os efeitos práticos de respeito pela humanidade, como um todo.  
Um diagnóstico das actuais limitações das teorias sociais pode vislumbrar actuações e dinâmicas de actualização promissoras e favoráveis à aliança, proposta por Acosta (2013), entre povos iletrados andinos e profissionais altamente qualificados no ocidente. 
Paralelismo entre o actual desenvolvimento das teorias sociais e o das sociedades andinas
Mouzelis (1995) descobriu que, pressionadas pelas revoluções culturais trazidas pelas famosas e orgulhosas juventudes de sessenta, as transformações profundas nas teorias sociais não foram suficientes para as resgatar da reificação e do reducionismo típicos do estrutural-funcionalismo, entretanto criticado e abandonado. O autor localiza nessa derrapagem epistémica, em tudo muda e fica na mesma ao mesmo tempo, uma das causas principais para o problema que tratou: o que se passa de errado com as teorias sociais? 
A ruptura epistemológica, portanto, não basta querê-la e anunciá-la: é preciso construi-la, a partir da boa consideração e transformação dos valores herdados. Há aqui um paralelo histórico com a experiência dos povos descolonizados e, também, dos indígenas andinos: não foi a independência política e o fim da colonização que transformou o essencial: a desarmonia entre as pessoas e a natureza, entre o extrativismo e o bem viver. 


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