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Reis, Manuela (2021). A política do património: o lugar do património na cidadania contemporânea. XI Congresso Português de Sociologia.
M. M. Reis, "A política do património: o lugar do património na cidadania contemporânea", in XI Congr.o Português de Sociologia, Lisboa, 2021
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TY - CPAPER TI - A política do património: o lugar do património na cidadania contemporânea T2 - XI Congresso Português de Sociologia AU - Reis, Manuela PY - 2021 CY - Lisboa UR - https://aps.pt/pt/xi-congresso-portugues-de-sociologia/ AB - Quando, há cerca de quatro décadas, Marc Guillaume (Guillaume, 2003-[1980]) publicou o seu livro com o título “A Política do Património” pretendeu apresentar o processo de patrimonialização pelo qual passavam as sociedades europeias como uma arma política dos governos ocidentais para se legitimarem num momento de crise económica, social e política, através da “domesticação” do passado. Construir-se-iam consensos através da política do património, para o autor, “uma arte de apascentar o rebanho humano, hoje disperso e reconduzido ao campo tranquilizante de uma ficção: a de uma sociedade supostamente capaz de, melhor do que as outras, conciliar continuidade com a mudança, a conservação com a criação” (2003-[1980]: 41). Se esta visão da “euforia do património” tem influenciado reflexões pertinentes sobre a lógica política deste movimento, também nos pode inspirar, porém, em sentido diverso do autor. A política do património, tal como se foi desenrolando na sociedade portuguesa, se nunca deixou de ser um instrumento de política cultural através do qual o Estado se refazia, e refazia a sociedade, através dos seus símbolos nacionais, também passou a ser um dispositivo para o aprofundamento da cidadania. Alargado o seu âmbito a cada vez mais categorias de bens culturais e não apenas sob o impulso ou a iniciativa do Estado, as questões do património envolvem e mobilizam diversos e dinâmicos sectores da sociedade. A sua conservação e valorização colide com actividades económicas, ou com elas se encadeia em demasia, contende com estilos, gostos e hábitos culturais, para além das controvérsias científicas e políticas quanto às soluções para a sua salvaguarda, bem como quanto à própria legitimidade da salvaguarda. Clivagens, por exemplo, entre concepções que restringem a importância do património à sua monumentalidade ou à sua (i)materialidade e as que revelam sensibilidade à importância da “biodiversidade cultural”, posicionando-se a favor da preservação do património diferenciado pela sua natureza, período e significado respectivos. A heterotopia de lugares em que o património se transformou convoca problemas legais, políticos, organizacionais cada vez mais complexos porque abrange perspectivas, sensibilidades e valores controversos, como é controversa, afinal, toda a matéria cultural. Convida, por isso, cada vez mais operadores à certificação da sua autenticidade, suscita e põe em confronto actores que se localizam em diversos campos sociais e institucionais e promovem acções para a sua defesa. À política do património não escapa a luta e o jogo políticos entre visões, discursos, perspectivas e interesses que a tornam em paradigma de análise apropriado para testar valores, atitudes e práticas de cidadania cultural relevantes nas sociedades contemporâneas. ER -