A avaliação dos impactos da atividade de criação e produção cultural nos territórios e nas comunidades onde esta se desenvolve é uma tarefa reconhecidamente complexa, mas que frequentemente acaba por ser alvo de exercícios redutores e demasiado simplistas, meramente centrados na avaliação das dimensões mais quantificáveis e sobretudo nos impactos económicos, mais diretos ou indiretos, dessas mesmas atividades. Para isso, utilizam-se indicadores que sejam mobilizáveis de forma relativamente simples, baseados em dados disponíveis no terreno, ou na realização de breves inquéritos por questionário, reforçando a tendência para uma hipervalorização dos aspetos económicos, facilmente quantificáveis, nestes processos, os quais são aliás muitas vezes já esperados de forma inquestionável ou acrítica pelas instituições de que os projetos ou promotores dependem, financeira ou institucionalmente, para o desenvolvimento destas atividades. Para além disso, estes exercícios de avaliação de impactos têm normalmente diversos problemas adicionais, como por exemplo o facto de se centrarem predominantemente em atividades mais mercantilizadas, ou de maior dimensão, ou que sejam realizadas em contexto de maior institucionalização, ou ainda cuja provisão seja feita em centros urbanos de maior dimensão. Nesta apresentação defende-se a utilização de metodologias alternativas a estas, que possam dar resposta à diversidade de contextos e à riqueza e complexidade das atividades e práticas culturais e das realidades onde são desenvolvidas. Procura-se dar espaço a uma lógica de avaliação, quantitativa ou qualitativa, dos efeitos das atividades culturais nos territórios e nas comunidades concretas onde estas ocorrem, que possa ser utilizada tanto nos cenários acima referidos como igualmente em contextos de menor densidade, institucionalização ou formalização. Parte-se do princípio de que exercícios quantificadores comparativos são frequentemente espúrios ou redundantes e que mais importante do que a quantificação dos efeitos destas atividades para o desenvolvimento do território, ou do que a ambição de ter indicadores universais que permitam uma fácil compatibilidade com outros contextos e realidades, por mais diferenciados que estes sejam, será dispormos de uma ferramenta que dê aos criadores e produtores culturais a autoconsciência da multiplicidade e diversidade dos seus impactos, bem como um instrumento de auto reflexividade que lhes permita identificar, na sua diversidade, e de forma adaptada aos seus contextos particulares, os efeitos que as suas atividades provocam nas comunidades e nos territórios onde são desenvolvidas. Sugere-se para isso uma grelha analítica pragmática para dar resposta a esta necessidade. Esta grelha, que se baseia numa noção multidimensional de desenvolvimento sustentável (assente em 5 grandes dimensões: cultural: económica; social; ambiental; e de participação e cidadania), tem sido desenvolvida por uma equipa de investigadores do DINAMIA’CET-iscte, em vários projetos de investigação, em colaboração e cocriação com diversos agentes culturais (artistas, promotores, produtores, mediadores, etc.), nacional e internacionalmente. É operacionalizada numa matriz com uma diversidade de indicadores, para cada uma destas dimensões e suas subdimensões de análise, através de uma aplicação informática que permite aos agentes culturais um exercício de auto-avaliação dos seus impactos nos diferentes campos do desenvolvimento sustentável.

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