Talk
Das pedras mortas às práticas vivas: a relevância do património imaterial
Event Title
VIII Congresso de Estudos Rurais - Paisagens Culturais: Heranças e Desafios no Território
Year (definitive publication)
2019
Language
Portuguese
Country
Portugal
More Information
Web of Science®

This publication is not indexed in Web of Science®

Scopus

This publication is not indexed in Scopus

Google Scholar

This publication is not indexed in Google Scholar

Abstract
Acompanhando perspectivas culturais europeias, em reformulação desde os anos 60, que se polarizam sobretudo nos anos 70/80, importantes transformações associadas ao conceito de património ocorreram na sociedade portuguesa do pós-25 de Abril. Herdeira de concepções monumentalistas do património, por um lado, e, por outro, de práticas políticas centralistas que conferem ao Estado exclusividade na sua preservação, cabendo-lhe enunciar o património a proteger e consagrar para o usar como símbolo do poder, nomeadamente na criação da identidade nacional, a sociedade portuguesa vê-se, nos últimos anos, confrontada com a superação daquelas duas noções. Não só o património, enquanto instituição cultural, deixou de confinar-se aos edifícios de carácter histórico-monumental, como também a sua definição passou a integrar outros protagonistas além do Estado. De repente, tudo se converte em património: a arquitectura, nas suas formas de construção eruditas e populares, urbanas e rurais, os edifícios públicos e privados, monumentais e não monumentais, os velhos edifícios industriais, as cidades, os conjuntos urbanos, as paisagens ou os contextos ecológicos em risco, os saberes, as técnicas, também as actividades e culturas em regressão ou subalternizadas. Eis o heritage boom, expressão que os seus inventores usaram para dramatizar o fenómeno social da explosão de sítios patrimoniais, considerado como a “obsessão moderna” pelo passado idealizado perante a acelerada perda de referências sólidas de um mundo globalizado em constante mutação (Hewison, 1987; Lowenthal, 2002- [1985]; Walsh, 1985). A noção de património alastra a novas áreas, ultrapassando a valorização específica do monumento. Por outras palavras, passa-se da noção restritiva de património, concentrada na protecção de bens culturais que já contêm em si a ideia de transmissão de memória – os monumentos intencionais, para usarmos a terminologia de Riegl (1984- [1903]) -, a uma visão alargada que procura agora preservar, patrimonializando-os, novos tipos de bens culturais, símbolos e representações do passado longínquo ou do passado recente que o avanço da modernidade coloca em risco de destruição ou esquecimento. Com base no contexto cultural sumariamente descrito, procura-se mostrar como o crescimento e a certificação da categoria “património imaterial” se constitui como um elemento de pressão política ambivalente, que tanto pode dotar as comunidades, nomeadamente rurais, de instrumentos para minimizar o processo de marginalização a que foram sendo sujeitas, como, pelo contrário, mascarar essa marginalização, ou, até, exponenciá-la, através da imposição de processos artificiais de salvaguarda de patrimónios que perderam os actores principais da sua sustentação.
Acknowledgements
--
Keywords
Política do património,património imaterial,comunidades