As patentes “crises” do Estado pós-colonial, a acção desestruturante da globalização e a ineficácia da aplicação de modelos exógenos de poder às realidades africanas, renovaram o interesse no papel assumido por vários tipos de construções de poder e de identidades. De facto, a capacidade de adaptação dos sistemas de poder tradicionais às exigências que sucessivas alterações conjunturais foram impondo atestam a necessidade de compreensão de “linguagens de poder" que emergem da vida quotidiana e das reinvenções que marcam as construções identitárias (Dozon 2008, Zeleza 2006). Para Mbembe (2001), o projecto de democratização da África depende de se cultivarem o que ele designa como "outras linguagens de poder", expressão de uma nova ética política. A cadeia iniciática de “formação” e legitimação da autoridade da sociedade Felupe é uma destas "outras linguagens de poder" (Tomàs 2005, Journet-Diallo 2007) que, associada à natureza fluida da construção de novas identidades individuais e colectivas para fins políticos (Vaughan 1991), procura responder aos desafios de manutenção da ordem e coesão social (Akindès 2003). Esta comunicação, baseada num dos capítulos da tese de doutoramento, debruça-se sobre as estratégias desta “outra linguagem de poder” da sociedade Felupe para acomodar a sua estrutura de poder a organizações administrativas alheias e perturbadoras, impostas por diferentes poderes estatais.

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