A década de 1970 é marcada por inúmeras transformações do sistema económico que vão desde o fim do sistema de padrão-dólar-ouro, à intensificação das relações de troca internacionais, passando pela alteração da divisão internacional do trabalho. Estas modificações acentuaram a necessidade de criar diversos mecanismos financeiros, desde logo de protecção de riscos cambiais, gerando uma progressiva e acelerada financeirização da economia. Uma das características deste período é a separação entre moeda e crédito, interligada com o aparecimento de uma moeda ficcional, mais claramente evidenciada como construção social. Recentemente, as tentativas de resolução da crise financeira iniciada em 2007, que passaram pela transferência para os Estados de parte das responsabilidades privadas, em simultâneo com o acréscimo de custos sociais que lhe são inerentes e num contexto de tendência de envelhecimento populacional, aumentaram as necessidades de emissão de dívida soberana. Simultaneamente, a política monetária, ainda que com cambiantes à escala internacional, traduziu-se num acréscimo sem precedentes da base monetária e na colocação das taxas de juro em níveis extremamente baixos, levantando questões relativas à moeda, e às aplicações financeiras, nomeadamente enquanto instrumento de reserva de valor. Neste trabalho, com recurso a séries longas, seguir-se-á a evolução da moeda, do crédito, e da dívida, desde a época de Bretton-Woods até à actualidade, procurando evidenciar a forma como as opções de política económica foram influenciando e moldando o processo de financeirização. A análise será centrada nas dinâmicas globais relevando a dimensão em que estas influenciaram dinâmicas específicas da economia portuguesa. Pretende-se ainda salientar de que forma estes processos contribuíram para o eclodir da recente crise económica e como os efeitos desta crise se traduziram no aprofundamento das tendências de alteração do papel da moeda que se vinham já verificando à escala mundial. * Departamento de Economia, ISCTE-IUL.

--