“Não há coisa mais atraente do que ele limpar a casa” – o impacto da divisão desigual de trabalho doméstico e familiar nas vivências da sexualidade feminina durante o pós-parto
Event Title
III Congresso Internacional do CIEG
Year (definitive publication)
2024
Language
Portuguese
Country
Portugal
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Abstract
Em Portugal, o trabalho doméstico continua a pesar de forma desigual para mulheres e homens. De acordo com o relatório da Comissão para a Igualdade da CGTP, apenas 19% dos homens declaram fazer pelo menos uma hora de trabalho doméstico por dia, em comparação com 78% das mulheres. Este tipo de desigualdade na divisão do trabalho familiar afeta múltiplas dimensões de vida, entre as quais a sexualidade.
O impacto da desigualdade na divisão do trabalho doméstico ao nível da sexualidade, nomeadamente entre casais heterossexuais, tem vindo a ser foco de vários estudos (Gager & Yabiku, 2009; Carlson et al., 2016; van Anders et al., 2021; Harris, Gormezano & van Anders, 2022), os quais têm dado conta do baixo desejo sexual entre mulheres que realizam uma proporção desigual do trabalho doméstico, bem como da maior frequência sexual entre casais mais igualitários - tendências que se acentuam entre casais com crianças, em que se adicionam às tarefas domésticas as tarefas e responsabilidades associadas à parentalidade.
Nesta comunicação, pretendemos contribuir para o conhecimento em torno da relação entre trabalho doméstico e familiar desigual, desejo sexual feminino e vivências de sexualidade em casal, especificamente analisando esta relação no pós-parto, um período marcado por um aumento significativo na carga de tarefas e responsabilidades familiares.
Para tal, partimos da análise de 45 entrevistas biográficas realizadas a mulheres que tenham tido um nascimento há 5 anos ou menos. Os resultados vêm confirmar o impacto negativo na sexualidade da divisão desigual de tarefas domésticas e de prestação de cuidados, bem como mostrar como, para muitos casais, a passagem para a parentalidade coincide com a passagem para um regime de maior desigualdade ao nível da divisão de trabalho doméstico e familiar, uma desigualdade apoiada e reforçada por valores de género tradicionais e por uma ideologia de maternidade intensiva.
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