Esta comunicação explora o processo de cocriação de um vídeo (de 5 minutos) que aborda a experiência coletiva e diversificada de nove mulheres investigadoras em Portugal. A câmara (do telemóvel) foi o meio utilizado para acedermos a experiências corporizadas relacionadas com o trabalho e carreiras académicas, a maternidade, a vida quotidiana, a migração e ainda o envolvimento político. Apesar das nossas diferenças (em termos de situação familiar, situação profissional, percurso académico, nacionalidade, entre outras), ao longo das diferentes fases de concretização deste filme (planeamento, filmagens, edição), descobrimos uma ligação profunda através da nossa identidade partilhada como mulheres e investigadoras. Inserindo-nos numa lógica contra o extrativismo (académico), adotámos uma metodologia colaborativa e não-hierarquizada que resultou num produto visual original que parte das nossas próprias experiências (e corpos) para falarmos, de forma mais geral, sobre o que é ser mulher na academia (portuguesa). A criação de um espaço não misto e seguro foi condição necessária à partilha de experiências pessoais da vida dentro e fora da academia, seguindo métodos “viscerais” (Sweet e Ortiz Escalante, 2015) e uma etnografia em patchwork (Cardoso et al. 2021). As filmagens fragmentadas de cada uma revelaram os interstícios dos nossos quotidianos e esses interstícios tornaram-se o foco do nosso trabalho. Seguindo um processo de análise e codificação, criámos um ensaio visual que trata da multidimensionalidade das nossas experiências enquanto mulheres e académicas bem como das persistentes relações de poder na universidade e da precarização do mundo académico. Nesta comunicação, são apresentados excertos do vídeo e partilhada uma reflexão crítica iniciada no outono de 2022, num workshop composto por quatro encontros de (auto)reflexão-pesquisa-criação. Essa reflexão prosseguiu-se com a realização de apresentações públicas e a escrita de um artigo a dez mãos. Este processo colaborativo e continuado fez-nos perceber quão potente (ao nível das relações) e inovador (ao nível dos resultados) um trabalho coletivo, organizado e sistematizado pode ser. O filme "O meu lugar é entre-lugares” vai além do exercício de documentação, é um exemplo de como podemos aliar criatividade e ciência rigorosa, mas também de com o podemos partilhar resultados científicos num formato alterativo às publicações e acessível a um público mais amplo.

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