Esta reflexão é uma viagem com paragens diversas por um conjunto de fenómenos sociais, culturais, políticos e comunicacionais que atravessam o atual momento populista. Nesta incursão, parto de uma discussão sobre o tempo do populismo e a sua relação com a obliteração da ideia de futuro, enquanto imaginário coletivo, para de seguida analisar como a era “pós-verdade” exige uma luta democrática que ocupe o terreno da comunicação e da produção de informação. A esta questão não é alheio o papel dos órgãos de comunicação institucionais, aqui olhados como um lugar onde emergiu a política mediática dos editocratas e nos quais a mercantilização e a precarização laboral mitigaram a responsabilidade social no jornalismo. Viajando para o mundo das redes sociais, critica-se o diagnóstico elitista que as associa à emergência de uma “nova ignorância”, para mostrar como elas são um palco do conflito social, estando igualmente relacionadas com mobilizações sociais que, em todo o mundo, resistem à ordem económica e financeira da qual o populismo se alimenta. Concluímos com a relação entre o populismo e a espetacularização da política, um processo assente numa diferenciação crescente entre quem tem o monopólio dos meios de produção do fenómeno político, e a esmagadora maioria das pessoas, remetida ao estatuto de espectadoras ou figurantes de uma democracia cerimonial e encenada. Resgatar a política e coletivizá-la torna-se uma necessidade urgente para reerguer uma ideia de futuro, sem a qual não há forma de mudar a vida.

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