Comunicação em evento científico
AS MISERICÓRDIAS PORTUGUESAS NA CONTEMPORANEIDADE – HISTORIOGRAFIA(S)
Daniela dos Santos Silva (Silva, Daniela);
Título Evento
II SEMINÁRIO POLÍTICAS SOCIAIS EM PERSPETIVA: ESTUDOS EM DEBATE
Ano (publicação definitiva)
2016
Língua
Português
País
Portugal
Mais Informação
--
Abstract/Resumo
INTRODUÇÃO A publicação de nova bibliografia (após 2002), relacionada diretamente com as misericórdias portuguesas, incitou naturalmente, a identificação de outros núcleos documentais, desdobrando as temáticas para dimensões de maior abrangência, no que se refere à esfera assistencial e institucional, e que se relaciona com o pensamento cientifico-social, que se desenvolve na Europa desde finais do séc. XVIII, e que está na raiz das políticas assistenciais da primeira metade do séc. XIX. A criação de novos institutos, em período liberal, para responder aos novos e velhos problemas sociais, bem como a reformulação dos já existentes, são indissociáveis dos discursos científico-sociais nascidos do conceito de “Estado Polícia”, transfigurado por toda a Europa, e que Portugal não foi de todo alheio, e é percetível com esta metodologia oferecida pela História das Ideias. As dissertações sobretudo sobre a disciplina de Medicina Administrativa e Legislativa, são cruciais para o entendimento, em Portugal, na primeira metade do séc. XIX, das funções e atribuições do Estado; na sua relação com os mecanismos de assistência; da própria definição de beneficência, enquanto conceito inteiramente novo; do lugar de cada instituição no contexto português da época, bem como, da relação entre a tutela e os tutelados, isto é, como é que estas instituições se viam a si próprias versus, como seriam entendidas pela sua tutela. Este tipo de literatura, que não trata procedimentos médicos mas sim da jurisprudência das ciências médicas, contêm autênticos programas e manifestos sobre a gestão da assistência em Portugal, de que as misericórdias portuguesas são parte integrante, enquanto detentoras de hospitais disseminados por todo o país. Esta dimensão é fundamental para se perceber também, enquanto processo de construção, a sua identidade. O diálogo e as dinâmicas relacionadas com o exercício e prática da medicina e as conceções teóricas que lhes estão adjacentes, bem como, problemas, protestos, reivindicações e soluções, são objetos e factos históricos, cuja dinâmica não é exclusiva às realidades nacionais, nem nelas se fecham, ou nelas têm «origem»; pelo contrário, propagam-se, são adaptadas e apropriadas, reformuladas ou imitadas, e nesse exercício se situam as conjunturas politico-geográficas particulares. Da mesma forma o são, os resultados ou a materialização de todos estes processos. Assim, as dimensões cultural e conceptual, inseridas no âmbito da História das Mentalidades e das representações, devem ser contempladas, fundamentalmente como parte integrante no estudo destas temáticas e destas instituições. É indispensável o seu aprofundamento devido à ligação profunda e capital que apresenta em relação ao plano assistencial, que enquadra a atividades destas instituições ao longo da sua existência e pode assim, ajudar a explicar esse mesmo fenómeno: da sua permanência na sociedade portuguesa. É necessário explicar os caminhos percorridos pelos objetos políticos em causa e assim, levar ao entendimento de tais políticas e suas origens, bem como às suas transfigurações, decorrentes do natural percurso social do tempo histórico. As políticas públicas sociais, de cujo universo as misericórdias são parte estrutural, afiguram-se geralmente, na historiografia e sociologia, erradamente como áreas temáticas “novas” e preocupantemente, sob um discurso oficial artificial, trazido para o presente, altamente politizado. Importa, com a metodologia académica das ciências sociais, traçar o seu percurso, no tempo longo.
Agradecimentos/Acknowledgements
--
Palavras-chave
Misericórdias portuguesas; Historiografia; Identidade cultural