Em Portugal, a crise económica vivida nos últimos anos foi marcada por um crescimento drástico do desemprego, assistindo-se também a uma intensificação dos conflitos sociais. Sendo claro que a escalada do desemprego terá desempenhado um papel decisivo, a precariedade tem sido tanto ou mais destacada como elemento chave das reivindicações expressas nos protestos (Fernandes, 2015). Além disso, as pessoas desempregadas não se terão afirmado como actor colectivo, de forma decisiva. Este é um problema com relevância política, social e económica na medida em que: a) embora com poucos recursos - incluindo o acesso à arenas institucionais - , as pessoas desempregadas representam uma segmento significativo da população; b) a persistência do desemprego, em particular o de longa duração, constitui um factor de exclusão e de aprofundamento das desigualdades sociais; c) os altos níveis de desemprego contribuem para pressionar as condições laborais da generalidade da força de trabalho, especialmente quando se verificam baixos níveis de protecção social. Assim, nesta comunicação serão apresentados alguns resultados preliminares de uma investigação acção participativa (IAP) abordando a mobilização de pessoas desempregadas - individualmente ou enquadradas em grupos ou organizações - no ciclo de protestos 2011-2013. Será abordada uma das razões que tem sido apontada na literatura para explicar estas dificuldades de mobilização e que pode ser formulada como o problema da acção colectiva das pessoas desempregadas (Chabanet e Faniel, 2012, 2): a sua posição, mais do motivá-las para assumir publicamente a sua situação - da qual gostariam escapar -, encoraja-as a se abrigarem em estratégias individuais de sobrevivência. A pesquisa incluiu três componentes organizadas em função dos seus objectivos específicos e o tipo de metodologia adoptada: o mapeamento do ciclo de acção colectiva 2011-2013; o contexto e as condições em que este ciclo de protesto ocorreu; a aprendizagem colectiva. Tendo em conta a complexidade do objecto de estudo, a estratégia metodológica adoptada (Gaventa e Cornwall, 2008) e a aposta numa estratégia de convergência e integração paradigmática no terreno (Diani, 2003), no processo de recolha e análise de dados foi adoptada uma combinação de técnicas de natureza quantitativa e qualitativa assente na triangulação de dados e de métodos (Flick, 2005), visando: enquadrar, sistemática e intencionalmente, pessoas e grupos, assim como eventos localizados em diferentes pontos no tempo e no espaço; aumentar o alcance, a profundidade e a consistência dos procedimentos. Para o mapeamento e a análise do contexto e condições do ciclo de mobilizações, além da revisão bibliográfica, foram utilizados dados recolhidos na participação nos episódios de protesto e na consulta de sites de atores políticos neles envolvidos. Para abordar o contexto e das condições dos protestos, foi realizada a análise de fontes estatísticas nacionais (relativas ao desemprego e à proteção social) e secundárias de âmbito europeu (Eurostat), e a análise documental de legislação relacionada com desemprego, bem como de outras fontes documentais relevantes, em particular documentos políticos de referência na implementação das políticas de austeridade (ex: Programas de Estabilidade e Crescimento e Memorando de Entendimento). Por fim, foram também realizados três focus group envolvendo pessoas desempregadas, activistas e sindicalistas que participaram neste ciclo de mobilizações. Pretendia-se com esta técnica entrevista colectiva, por um lado, abordar os modos como os e as activistas entenderam e determinaram as suas próprias oportunidades políticas, assim como as estratégias, percepções e motivações que podem facilitar o uso dos seus poderes estruturais potenciais (Flacks, 2005), no que concerne ao problema do desemprego.

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