Estando a ser realizada uma Tese de Doutoramento sobre comunicação da morte em Portugal, uma das áreas abordadas é a dos obituários e memoriais online. Aqui, explora-se concretamente o papel das plataformas que criam este tipo de espaços digitais, nos quais expressam os seus objectivos e motivações, e informam o utilizador — como actor discursivo no contexto do obituário — do seu potencial papel dentro da plataforma. Do ponto de vista metodológico, são exploradas tendências discursivas de dois tipos de plataformas necrológicas distintas: o website Até Sempre, espaço ligado a agências funerárias locais, que publica o óbito e permite ao utilizador a reacção num memorial; e páginas de Facebook de cinco funerárias locais, que servem, essencialmente, como espaços para obituários de falecidos em relação aos quais foram efectuados os seus serviços. Ambas possuem características similares, sendo espaços de memoriais online de carácter comunitário, em que os utilizadores que produzem o discurso tendem a ser familiares mais afastados ou pessoas que haviam tido contacto com o falecido, com maior ou menor frequência, na comunidade em que viviam. Para além de uma parte teórica que explora a evolução necrológica, foi então elaborado um modelo analítico que aborda o discurso tendo em conta: i) a sua dimensão prática, com a identificação do objectivo e de referências explícitas no texto; e ii) uma dimensão referente ao significado discursivo, que discorre sobre o subtexto apresentado no mesmo. Assim, são analisados, em particular, todos os textos de apresentação presentes nos dois tipos de plataformas, bem como o discurso e características presentes nos próprios obituários, permitindo perceber as motivações que incentivam a criação destes espaços online. Sendo um trabalho ainda em desenvolvimento, verificam-se algumas tendências. Desde logo, e tendo em conta a parte de revisão de literatura, uma tendência geral para que o obituário evolua para uma dimensão mais digital e democrática, modificando, por exemplo, a forma como o luto é experienciado pelas pessoas próximas do falecido. Depois, e tendo em conta a metodologia utilizada, a propensão para as plataformas representarem a morte de modo eufemístico (e.g., “aquele que partiu”), evitando-se a sua comunicação directa; a forma como se incentiva, através do discurso das plataformas, a que o significado da vida do morto seja construído através das “memórias” dos que ficam, sendo do contacto e das histórias com o falecido que se cria algum tipo de significância; ou ainda a evolução do conceito de mortalidade híbrida, existindo a criação, por parte das plataformas, de uma identidade virtual, e muitas vezes anteriormente inexistente, do morto. No geral, assiste-se assim à evolução da necrologia digital, influenciando e renovando conceitos como identidade e memorialização, e exponenciando uma nova relação comunicacional entre a comunidade e a dimensão digital.

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Necrologia online,Discurso,Representações da morte.