Como é que os indivíduos através da sua acção colectiva, organizada e continuada, mudam as sociedades onde vivem? Nesta comunicação são discutidos os conceitos de habitus militantes [radical habitus] e acção colectiva a partir de trajectórias de vida de activistas locais. Queremos compreender como a sua acção se inscreveu nos períodos do fascismo, da Revolução dos Cravos e institucionalização da democracia em Portugal até aos dias actuais. Investigamos a hipótese de que tais transformações se deveram a habitus militantes locais forjados numa resistência antifascista combativa, fraterna e de bem-estar [welfare], e que se projectou de modo marcante nos períodos revolucionário e da construção da jovem democracia portuguesa. Tais habitus militantes, metodologicamente explorados através da pesquisa de trajectórias de vida, estão enraizados nos concelhos do Seixal e do Barreiro, contextos locais inseridos em duas das áreas urbanas mais industrializadas de Portugal, e que se constituem como estudo de casos exemplares das significativas transformações observadas na sociedade portuguesa durante a segunda metade do século XX. A análise do passado destes locais e comunidades permite compreender as suas dinâmicas específicas, que fizeram destes espaços lugares destacados da revolução terra-a-terra, nos quais a acção colectiva se articulou a vários níveis, também a partir de organizações locais, regionais e nacionais. A pesquisa de trajectórias de vida foi realizada num tempo longo de pesquisa, e incorpora as contribuições de uma metodologia qualitativa, principalmente assente em retractos sociológicos. Através deles veremos como se desenvolvem micro, meso e macroprocessos de acção colectiva, decisivos para a compreensão das sociedades contemporâneas.

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