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Comunicações
Descrição Detalhada da Comunicação
Sindicalismo, sexismo, separatismo: contributos para o conhecimento de uma página obscura do sindicalismo português
Título Evento
Congresso Trabalho e Movimento Operário
Ano (publicação definitiva)
2013
Língua
Português
País
Portugal
Mais Informação
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Abstract/Resumo
O sindicalismo nasceu andro-centrado e revelando uma atitude fortemente sexista em relação ao papel da mulher na sociedade, em particular no referente à sua inserção no mercado de trabalho e nos sindicatos. Segundo Pasture (1997), isso deveu-se a uma contaminação do movimento operário pela cultura burguesa e respectiva representação da sociedade e dos papéis que nela deveriam ser desempenhados por homens e mulheres.
Esta atitude em breve se tornou dominante, ao ser transversal a correntes sindicais tão díspares quanto as influenciadas por Proudhon, pelo catolicismo ou pelo reformismo, a ela só tendo escapado a corrente de filiação marxista que, fundando-se nos princípios da igualdade e da emancipação, defendeu sempre o direito das mulheres ao trabalho assalariado, ao mesmo tempo que sustentava que este não era um grupo homogéneo, existindo no seu seio interesses diferenciados. No seu entender, a fractura não ocorre entre homens e mulheres, mas sim entre proletários e capitalistas, entre oprimidos e opressores.
Ao tornar-se dominante, a atitude sexista acabou por orientar durante um longo período as estratégias sindicais face às mulheres. Com base nela visou-se excluí-las ou segregá-las no mercado de trabalho ou, quanto muito, aceitava-se o trabalho feminino como transitório enquanto se tentava confiná-lo a determinados ramos de actividade com salários mais baixos. Isto sucedeu desde logo com o movimento sindical britânico que, ao negar a filiação sindical às mulheres no quadro da utilização da prática do closed shop, conseguiu vedar o seu acesso a muitos segmentos do mercado de trabalho.
Para além da exclusão, outras práticas discriminatórias se verificaram, como sejam, o impedi-las de usar da palavra nas reuniões de trabalhadores, o coarctar-lhes a possibilidade de ascenderem a cargos de decisão nos sindicatos, ou o actuar no sentido não da eliminação das desigualdades salariais, mas antes do seu reforço.
Se bem que no Reino Unido, no início da industrialização e da organização dos trabalhadores se tivessem constituído associações mistas, os actos de discriminação acabaram por levar as mulheres a formar sindicatos próprios. É o que Briskin (1998) designa por “estratégia de separatismo”, significando uma recusa em trabalhar com os homens com a consequente constituição de organizações alternativas. Vários sindicatos femininos surgiram então no Reino Unido, permanecendo activos até à Iª Guerra Mundial ou mesmo depois. Organizações exclusivamente femininas foram igualmente constituídas em França, quer na CGT sindicalista-revolucionária, ainda que de curta duração, quer na católica CFTC, tendo estas perdurado até à ocupação nazi. Outras experiências mantiveram-se até muito recentemente, como sucedeu com o KAD dinamarquês, fundado em 1901 e que só foi extinto em 2004.
O movimento sindical português do início do século XX não ficou à margem destas dinâmicas, pouco conhecidas. Também no nosso país, as atitudes de discriminação conduziram as mulheres à criação de organizações sindicais alternativas, em particular nas indústrias conserveira e do calçado.
Baseando-se em análise documental, esta comunicação é um contributo para tirar esta questão da sombra. Ela centrar-se-á sobretudo no caso da Associação de Classe das Operárias das Fábricas de Conservas de Peixe de Setúbal.
Agradecimentos/Acknowledgements
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Palavras-chave
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