Uma abordagem raciolinguística sobre o "falar brasileiro"
Event Title
V Congresso Internacional da Associação de Brasilianistas na Europa (ABRE)
Year (definitive publication)
2025
Language
Portuguese
Country
Spain
More Information
Web of Science®
This publication is not indexed in Web of Science®
Scopus
This publication is not indexed in Scopus
Google Scholar
This publication is not indexed in Google Scholar
This publication is not indexed in Overton
Abstract
Portugal tem experienciado um aumento significativo do fluxo imigratório, especialmente de cidadãos brasileiros, configurando a chamada quarta onda imigratória. Um dos fatores centrais dessa mobilidade é a internacionalização acadêmica, com destaque para o expressivo ingresso de brasileiros no ensino superior português. O compartilhamento da língua portuguesa, idealizado sobre uma perspectiva universalizante e lusotropical, tem sido mobilizado tanto por estudantes – que esperam uma adaptação linguístico-cultural facilitada – quanto por políticas institucionais de atração de estudantes lusófonos. No entanto, esses estudantes-migrantes brasileiros não acedem a um espaço neutro, mas sim a um campo atravessado por relações de poder marcadas pela colonialidade (França et al., 2018).
Nesse contexto pós-colonial, o encontro prático desses estudantes-migrantes com a sociedade portuguesa, especialmente no espaço acadêmico, revela processos de diferenciação raciolinguística – em que o falar brasileiro-ser brasileiro funciona como marcador central da diferença nas dinâmicas de interação. À luz da perspectiva raciolinguística (Flores & Rosa, 2015; Rosa & Flores, 2017), este estudo analisa como seus repertórios linguísticos são socialmente interpretados a partir de modos hegemônicos de percepção, posicionando tanto a produção linguística quanto os sujeitos como inferiores, com base em valores eurocêntricos. Tais práticas não são meramente linguísticas, mas historicamente constituídas e sustentadas por estruturas institucionais que articulam raça, língua e poder.
O objetivo desse estudo é desnaturalizar o “falar brasileiro” como mera decorrência de uma identidade nacional, argumentando como as construções de raça e de língua são estruturantes das hierarquias pós-coloniais contemporâneas. Buscamos compreender as condições de possibilidade da produção dessa percepção hegemônica – os dispositivos históricos, ideológicos e institucionais que as tornam inteligíveis, legitimadas e naturalizadas. Por essa abordagem, buscamos contribuir para o debate multidisciplinar sobre os usos e experiências da língua portuguesa do Brasil em contextos migratórios contemporâneos, evidenciando como a língua é também um lugar de disputa, tensão e fricção no cotidiano das trajetórias migratórias.
Flores, N., & Rosa, J. (2015). Undoing appropriateness: Raciolinguistic ideologies and language diversity in education. Harvard Educational Review, 85(2), 149–171. https://doi.org/10.17763/0017-8055.85.2.149
França, T., Alves, E., & Padilla, B. (2018). Portuguese policies fostering international student mobility: a colonial legacy or a new strategy? Globalisation, Societies and Education, 16(3), 325–338. https://doi.org/10.1080/14767724.2018.1457431
Rosa, J., & Flores, N. (2017). Unsettling race and language: Toward a raciolinguistic perspective. Language in Society, 46(5), 621–647. https://doi.org/DOI: 10.1017/S0047404517000562
Acknowledgements
--
Keywords
Português