Muitos dos estudos que tratam a sexualidade feminina na gravidez e no pós-parto tendem a retratar esta sexualidade de uma forma reducionista e descontextualizada, oferecendo pouca informação acerca dos contornos das vivências da sexualidade neste período e dos principais fatores a considerar para dar significado a essas vivências. O facto de uma grande parte da investigação desenvolvida em torno desta temática assentar numa visão da sexualidade que é fundamentalmente instrumental e medicalizada reforça esta tendência para a descontextualização, não apenas biográfica, mas também social e cultural, a qual essencializa as experiências da sexualidade e reifica as mesmas, limitando-as aos seus elementos objetivos e mensuráveis. A sexualidade na gravidez e pós-parto tende a surgir em muita da literatura produzida como uma experiência isolada, fechada sobre si mesma, uma fase temporária que antecede um “regresso à normalidade”, medida a partir de um conjunto de indicadores de frequência, iniciativa, satisfação e desejo, e em que as relações sexuais penetrativas e as “dificuldades sexuais” ocupam um lugar de destaque. Nesta comunicação, pretende-se olhar para além deste retrato redutor e identificar os vários elementos que figuram na construção de vivências da sexualidade feminina na gravidez e no pós-parto. Para isso, partimos da análise de 45 entrevistas biográficas realizadas a mulheres que tenham estado grávidas e passado por um nascimento há 5 anos ou menos. Os resultados revelam a importância de tomar em consideração um conjunto de elementos (identitários, relacionais, culturais) que contribuem para atribuir significado a estas experiências de sexualidade, bem como a grande diversidade de vivências, e não universalidade de formas de viver a sexualidade e a maternidade. Para além disso, revelam uma visão da sexualidade feminina complexa, a qual se constrói em oposição direta à visão reducionista de outras investigações – uma sexualidade biográfica, relacional, em processo contínuo de construção e reavaliação, e a qual é construída e apenas pode ser compreendida no cruzamento de um conjunto de dimensões e contextos.

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