A medicalização do parto na sociedade ocidental, e a mudança da percepção deste evento para uma doença em vez de um evento natural, tem sido evidenciada desde a segunda metade do século XX. A implementação de um modelo tecnocrático de assistência ao nascimento nas várias sociedades significou grandes mudanças nos rituais e atores presentes durante o parto, como a diminuição do número de partos domiciliares, a alteração da figura de assistência ao parto para médicos obstetras em virtude de parteiras; o aumento de intervenções médicas no corpo da mulher, e uma perda da sua autonomia corporal durante este evento. Os territórios indígenas da América Latina não foram alheios a este fenómeno. Ainda que, nalguns contextos, prevaleçam os cuidados ancestrais, noutros, os cuidados hospitalares têm substituído o papel das parteiras, como é o caso da Guajira, no Norte da Colômbia. Isto não significou, necessariamente, uma diminuição na taxa de mortalidade materna na região, que tem demonstrado oscilações ao longo dos últimos anos. A partir dos microdados sobre nascimentos disponíveis pelo Departamento Administrativo Nacional de Estatística da Colômbia (DANE), e a partir de relatos de partos desde os anos sessenta, de mulheres entrevistadas em trabalho de campo em julho de 2024 e em abril de 2025 no sul da Guajira, pretendo compreender em que contexto económico-social se deu o processo de medicalização do parto na Guajira, e que efeitos teve nas taxas de mortalidade materna e infantil da região, assim como na percepção das experiências de parto por parte destas mulheres.

Fátima Epiayú, Dalcia Pinto, Rosy Epiayu, Paola Rivera, Angie Gallardo-Rivas