Paisagens de terror, violência e patrimónios forenses no espaço lusófono pós-colonial
Descrição

Esta proposta destina-se ao desenvolvimento de uma agenda de investigação sobre a forma como a violência se inscreve nos regimes de memória/património, tendo como enquadramento empírico os desdobramentos históricos e sociopolíticos dos projetos imperiais e do Estado Novo portugueses e as trajetórias pós-coloniais da articulação CPLP/PALOP. Em linhas gerais, estamos interessados ​​em estudar os vestígios materiais, estéticos e epistemológicos da violência colonial e pós-independência (ou 'escombros', nas palavras de Ann Stoler 2013) no contexto contemporâneo, mas propomo-nos a fazê-lo a partir do ângulo específico de como certos espaços que outrora foram locais de violência política e terror – em suas diferentes formas biopolíticas de confronto, perseguição, massacre, exploração, miséria, etc. – são semantizados no espaço contemporâneo de articulações patrimoniais pós-coloniais. Neste quadro, observamos que diferentes momentos da história colonial e autoritária que ligou Portugal e as suas ex-colónias foram alvo de apropriações e discursos patrimoniais e de memória muito diversos no quadro  cultural e político pós-colonial da CPLP: de a memorialização oficial e pública de prisões como Aljube e Peniche em Portugal, São Nicolau ou São Paulo em Angola ou Tarrafal em Cabo Verde, aos casos menos visíveis e mais problemáticos de fomes graves em Cabo Verde e Moçambique, ou os massacres de Pidjiguiti em Bissau (1959), Wiriamu em Moçambique (1972), ou dos Kuvale em Angola (1940-1) – ou violências pós-independência como o 27 de maio de 1977 em Angola, etc. de herança e memorialização? Como é que esta “diplomacia patrimonial” específica do CPLP/PALOP tem lidado com a perícia da violência colonial? Como a violência pós-colonial moldou percepções e memórias de passados ​​violentos? Qual é o processo de inscrição material, semântica, estética, arquitetónica e paisagística desses regimes? Como essas mobilizações patrimoniais são recebidas, acomodadas ou contestadas pelos habitantes dessas topografias? Mais ainda, quando se trata de herdar a violência e o trauma, que tipo de contra-herança é possível? Que tipo de reverberação ocorre entre as mobilizações públicas e alternativas ou populares? Qual a relação entre esses discursos de memorialização e a história transmitida por meio de programas de educação formal sobre esses episódios de violência?
Estamos interessados ​​em estudar essas diversas articulações como 'património forense', ou seja, movimentos de infraestrutura, arquiteturas e designs que não apenas moldaram locais e episódios de violência e terror do passado, mas continuaram a produzir uma epistemologia ad hoc e um envelope ideológico em torno de seus históricos e significado político, e tiveram consequências materiais (arquitetónicas) ou pós-vidas na paisagem, por meio de processos de abandono e apagamento ou, em contraste, promoção de locais de memória. Argumentamos que uma abordagem patrimonial forense que se concentra na paisagem, arquitetura e epistemologia pode nos ajudar a estudar esses processos arqueológica e comparativamente, através da discussão crítica de semelhanças e diferenças entre estudos de caso no antigo espaço colonial português. Acreditamos que esta abordagem pode contribuir para um debate mais amplo sobre a complexa relação entre memória e património como 'intervenções' no contexto da pós-colonialidade, em particular no quadro de violência, trauma e 'heranças difíceis'.
Posteriormente, propomos uma iniciativa coletiva de pesquisa que combina a organização de workshops e a produção de produtos, e uma avaliação de pesquisa in loco e uma reunião de intercâmbio acadêmico, a ser realizada em 2023 em Bissau e na aldeia de Cachéu na Guiné-Bissau. Isso inaugurará um esforço coletivo para um inventário de sítios/lugares de memória sobre a violência colonial/pós-colonial, para ser usado em futuras candidaturas de projetos.

Parceiros Internos
Centro de Investigação Grupo de Investigação Papel no Projeto Data de Início Data de Fim
CRIA-Iscte Grupo de Ambiente, Sustentabilidade e Etnografia Parceiro 2023-01-01 2023-12-31
Parceiros Externos

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Equipa de Projeto
Nome Afiliação Papel no Projeto Data de Início Data de Fim
Ruy Blanes Professor Auxiliar Convidado (DA); Investigador Integrado (CRIA-Iscte); Coordenador Global 2023-01-01 2023-12-31
Financiamentos do Projeto

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Outputs (Publicações)

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Dados de Investigação Relacionados

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Referências nos Media Relacionadas

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Outputs (Outros)

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Ficheiros do projeto

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Paisagens de terror, violência e patrimónios forenses no espaço lusófono pós-colonial
2023-01-01
2023-12-31