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A cultura participativa da morte
Pedro Caldeira Pais (Pais, Pedro Caldeira); Pedro Pereira Neto (Neto, P.);
Event Title
XIII Congresso de Sociologia
Year (definitive publication)
2025
Language
Portuguese
Country
Portugal
More Information
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Abstract
Esta comunicação discute e procura compreender o papel da morte na proximidade física, a função do digital e de que forma pode existir uma maior integração da morte nas proximidades locais em Portugal. Metodologicamente, utilizou-se a Análise Crítica do Discurso, aplicada ao discurso online de perfis institucionais (funerárias e websites necrológicos); e a Etnografia, focada nas dinâmicas comunitárias de utilizadores em obituários de páginas de Facebook de funerárias locais. Procura-se aqui interligar dois conceitos: a «cultura participativa» da morte e o papel da proximidade comunitária. Mais associada a participação cívica, assiste-se em Portugal, porém, a uma cultura participativa relevante (em termos quantitativos e qualitativos) de utilizadores que comentam em obituários online das funerárias locais, e que o fazem, por um lado, através de condolências comuns e, por outro, por via de comentários com maiores detalhes subjectivos, que caracterizam a pessoa defunta. Contrastando com obituários tradicionais, nos quais os textos narrativos de círculos próximos se revelavam fundamentais na concepção da pessoa na memória colectiva (Fowler, 2007), assiste-se, nestes espaços da Web 2.0, à aparente transferência desse tipo de narrativas sobre o morto para círculos secundários do mesmo, pertencentes à proximidade. Por outro lado, e tendo em conta este potencial, tais espaços parecem revelar-se também discursivamente imprevisíveis (e.g., alheamento de utilizadores quanto ao contexto delicado do obituário), em que a mediação do digital — entre outras características limitadoras, como os algoritmos — promoverá desresponsabilizações no discurso de luto de alguns dos utilizadores. De modo a reflectir sobre uma renovada relação entre indivíduos e morte, argumenta-se assim que, existindo apropriação social do digital por parte de elementos da proximidade (revelando a intenção de participar no discurso de luto), poderá ser importante repensar, também, uma reintegração física da morte na proximidade, que contrastaria com processos de intermediação de serviços que foram afastando a família e as proximidades (Ariès, 1974). Tal poderia ocorrer através da aproximação dos indivíduos a processos de gestão fúnebres não institucionais, com uma participação mais activa de elementos dos círculos primários e secundários do morto, exigindo a reformulação da relação actual entre funerárias (instituições) e indivíduos (localidades), que teriam de dividir responsabilidades e gestões relativamente à morte — reintroduzindo dinâmicas não apenas de maior partilha comunitária, mas de uma participação mais efectiva da mesma.
Acknowledgements
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Keywords
Morte,Cultura participativa,Proximidades,Sociologia