Esta investigação procurou definir o conceito de “morada” numa perspectiva ecológica, a partir da vivência subjetiva de pessoas com experiência de sem-abrigo. Procurou-se deste modo perceber que discursos se encontravam presentes nas narrativas deste grupo e como é que eles nos poderiam ajudar a compreender o papel da “morada”, como promotora do bem estar psicológico e da capacitação e integração social dos indivíduos. A execução empírica do presente trabalho foi desenvolvida numa abordagem qualitativa como um estudo exploratório, tendo-se recolhido cinco narrativas da biografia pessoal de um grupo de quatro indivíduos com experiência de sem-abrigo, a partir de entrevista aberta semiestruturada, em duas fases. Estas estórias pessoais foram depois analisadas em três fases, à luz da análise de conteúdos e da Teoria da Narrativa, tendo-se utilizado software de análise próprio para investigação qualitativa e multimétodo como uma forma de ampliar a reflexão sobre os significados dos acontecimentos narrados. As principais conclusões obtidas foram a confirmação da relevância da literatura científica de base ecológica para a articulação de investigação empírica nesta área e o levantamento de um conjunto de recomendações e sugestões práticas que podem ser aplicadas nos serviços de apoio às populações de indivíduos sem-abrigo e informar tomadas de decisão a nível político nas áreas da habitação ou do planeamento urbano. Concluiu-se ainda que os serviços de apoio existentes no sistema atual apresentam muitas limitações e que é possível atuar no que toca aos recursos de apoio à habitação e ao emprego. Apresenta-se ainda uma definição alargada para o constructo “morada” elaborada a partir das narrativas.

Pela naturalidade com que recebeu e orientou um arquiteto na Psicologia Comunitária, Professor Doutor José Ornelas

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