A restituição dos restos mortais de Ngungunhane na imprensa moçambicana e açoriana
Event Title
X Colóquio Doutoral ESPP
Year (definitive publication)
2024
Language
Portuguese
Country
Portugal
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Abstract
O dia 15 de junho de 1985, é um marco histórico moçambicano. 79 anos após a morte em Angra do Heroísmo, uma urna com alegadamente os restos mortais de Ngungungunhane, voltou à Moçambique. Depois de esperar por mais de um ano no Ministério dos Negócios Estrangeiros, a urna deixou Lisboa, à presença das máximas autoridades portuguesas. A chegada foi recebida por uma cerimônia apoteótica, uma multidão se reuniu nas avenidas de Maputo, seguindo o cortejo do magnífico caixão em madeira de jambirre, um símbolo quase sagrado.
Todavia, a restituição dos restos mortais de Ngungunhane, não correspondeu apenas ao desejo de recuperação da própria história. Foi o ato conclusivo da construção do Ngungunhane como herói da resistência anticolonial. Foi também o maior evento da comemoração decenal da independência e o grande “trofeu” de Samora Machel, destinado a falecer tragicamente no ano seguinte. Apesar de alguma crítica nos jornais açorianos, a trasladação dos “ossos” reaproximou Moçambique e Portugal, virando a página e enterrando o contencioso colonial. Além disso, foi uma tentativa, tipicamente ritual, de evocar coesão nacional na altura trágica da guerra civil entre FRELIMO e RENAMO. Na imprensa, emergem recados ao regime racista sul-africano, numa reafirmação da soberania após os frágeis acordos de Nkomati (1984), considerando que a cultura changana sempre esteve presente nos dois lados da fronteira.
Pela centralidade que a sepultura na terra dos antepassados desempenha na tradição africana, a impactante e polêmica restituição dos espólios, foi inspiração, nas décadas seguintes, de canções e obras literárias de nível mundial.
Acknowledgements
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Keywords
Ngungunhane,Moçambique,Colonialismo português,Nacionalismo,Imprensa,Açores