Em Portugal, os processos simultâneos de diversificação e estratificação sociocultural do sistema educativo têm vindo a ser objeto progressivo de interesse na sociologia. No sentido da diversificação encontramos, nomeadamente, a expansão do acesso – e do sucesso – de grupos sociais historicamente afastados da escola a patamares de nível secundário e superior. Por outro lado, investigações recentes têm ressaltado o encaminhamento desproporcional dos alunos afrodescendentes e de classes populares para vias de ensino profissionalizantes (within-school stratification), bem como o possível aumento da estratificação dos meios sociais de recrutamento das escolas, conduzindo à homogeneização dos estabelecimentos e à polarização das redes escolares locais (between-school stratification). Estas tendências sinalizam uma intensificação das desigualdades de oportunidades educativa em Portugal, na medida em que potenciam a exclusão relativa dos grupos sociais cujos resultados se têm revelado mais sensíveis aos ambientes escolares: os alunos inseridos em contextos sociais mais desfavorecidos. Importa aprofundar o conhecimento sobre o efeito específico dos contextos educativos nas trajetórias destes alunos “excluídos do interior”, focando os impactos da gestão da diversidade por via dos grupos-turma nos resultados escolares e, em especial, a forma como os descendentes de imigrantes e minorias étnicas são afetados pelas referidas práticas de segmentação escolar. A pesquisa teve o objetivo de (i) mapear a evolução dos padrões de recrutamento social e étnico das escolas em cada concelho da Área Metropolitana de Lisboa e (ii) aferir a prevalência do princípio da igualdade de oportunidades na gestão interna da população escolar, ou seja, avaliar como cada escola gere a diversidade sociocultural da sua população. Adotou-se uma abordagem extensiva assente na análise de microdados estatísticos da Direção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência. Os dados reportam-se ao ano letivo de 2016/2017, sendo relativos à população de alunos matriculados nas escolas da AML com pelo menos um progenitor nascido no estrangeiro. A análise de clusters de escolas e de turmas da AML permite-nos concluir pela existência de uma rede escolar social e etnicamente estratificada. Constata-se também que são comuns as práticas de constituição de turmas social e etnicamente homogéneas em escolas com os mais diversos padrões de recrutamento. Nota: Produzido no âmbito da pesquisa de doutoramento da autora financiada pela FCT (ref.: SFRH/BD/135970/2018); dados da DGEEC cedidos à equipa do projeto “(Des)igualdades nos trajetos escolares dos descendentes de imigrantes” (OD – CIES)

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