A escassez de investigação sobre o contexto prisional em Portugal justifica a implementação desta investigação que explora a formação das hierarquias informais entre reclusos e as dinâmicas de poder, no contexto particular do Estabelecimento Prisional de Faro. Em termos teóricos foi usada a tese de Bourdieu (1986) sobre as formas de capital para compreender que tipos de capital (económico, cultural, social e simbólico) influenciam a posição dos reclusos na estrutura hierárquica informal que se estabelece entre eles no interior da prisão. Metodologicamente privilegiou-se uma abordagem qualitativa baseada em entrevistas semi-estruturadas, realizadas individualmente a 30 reclusos com perfis diferenciados em termos de antiguidade na prisão (recém-chegados, “residentes” e reincidentes), no interior do Estabelecimento Prisional de Faro. As entrevistas foram posteriormente transcritas e submetidas a análise de conteúdo. A análise de redes sociais foi implementada com base em informação relacional recolhida através das entrevistas, com o objectivo de mapear as interacções e conexões entre os reclusos, revelando como as relações sociais influenciam a estrutura de poder e a obtenção de estatuto social dentro da prisão. Os resultados sugerem que a interacção entre diferentes capitais é crucial para a ascensão na hierarquia informal, mas sublinham a centralidade do capital simbólico, e em particular as questões relacionadas com a masculinidade hegemónica, bem como do capital social para a definição da posição hierárquica dos reclusos na prisão. Os reclusos com maior estatuto social correspondem àqueles que funcionam como intermediários na rede, ligando diferentes subgrupos e promovendo interacções-chave. Os reclusos periféricos, muitas vezes associados à toxicodependência, ocupam posições mais baixas. A análise de redes sociais revela a complexidade das hierarquias informais no contexto prisional e destaca o papel dos capitais, possibilitando uma abordagem mais abrangente e contextualizada do poder na prisão.

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