A fotografia documental permite a fixação de um determinado tempo e espaço, segundo o olhar do autor, fixando paisagens, comunidades e vivências, registando o palimpsesto (Corboz, 1983) existente, a identidade e a memória coletiva (Halbawachs, 1925) das comunidades que lhes estão associadas, revelando que as paisagens são história pública (Hayden, 1995), que estão em constante mutação e que a imagem pode guardar essas alterações (Sontag, 1973). É, igualmente, um documento de apoio para a construção de representações de paisagens caminhadas/walkscapes (Careri, 2013) e para criação de uma possível história do caminhar no espaço. Tendo como base o acervo do Arquivo Municipal de Lisboa – Fotográfico, este ensaio apresenta a criação e montagem de 11 séries de fotografia documental que traçam a evolução urbana das antigas estradas de Lisboa, entre 1903 e 1970, associadas a um ano e autor específicos. A documentação das estradas permite a construção de um arquivo visual composto por uma imagem global e uniforme para todas, por um registo de momentos cronológicos e modos de fotografar idênticos e permite a criação de narrativas que contam as suas vivências, história, paisagem, modos de caminhar e de apropriação do espaço, à medida que os passos as atravessam e os fotógrafos as registam.

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