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Descrição Detalhada da Comunicação
O grito de Ualalapi. A literatura como contra narrativa histórica no Moçambique independente.
Título Evento
Intercâmbios intelectuais entre a África revolucioária e a América Latina, 1950–1990.
Ano (publicação definitiva)
2025
Língua
Português
País
Portugal
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Abstract/Resumo
O romance Ualalapi (1987), de Ungulani Ba Ka Khosa, inicia-se com o grito de um Não! que ecoa por 11 dias e 11 noites, metafórico dos anos de exílio do rei Ngungunhane e do Governo de Samora Machel. Desde o começo, a obra propõe uma crítica da narrativa histórica oficial moçambicana. Khosa subverte a representação heroica de Ngungunhane, transformado pela FRELIMO em símbolo da resistência nacional, apresentando-o não como herói, mas como um soberano violento e cruel. Esta figuração ficcional funciona como espelho empírico do próprio Machel, cujo governo revolucionário revelou graves tendências de autoritarismo.
Ao estabelecer este paralelismo, o autor sugere a natureza cíclica das estruturas despóticas, mostrando como elas ultrapassam dicotomias simples entre períodos colonial e pós-colonial. Escrito no auge da guerra civil entre FRELIMO e RENAMO, o romance reflete o ambiente de brutalidade e desagregação da época por meio de imagens de sangue, terror e grotesco, aproximando-se de escritores latino-americanos como García Márquez e Vargas Llosa, influencias principais do autor.
A narrativa revela um país marcado por contrastes e clivagens. Elementos como ancestralidade, oralidade e imaginários mágico-religiosos insurgem-se contra a retórica monolítica do “homem novo”, difundida pela FRELIMO. Ualalapi afirma-se, assim, como obra polifónica que resgata memórias marginalizadas e silenciadas pelos projetos hegemónicos de poder, tanto do império de Gaza quanto do Moçambique independente. O romance transmite a mensagem que o discurso histórico nacional deveria emergir do confronto crítico com todas as suas histórias, inclusive as incómodas e reprimidas, e não da aceitação acrítica de narrativas aglutinadoras.
Agradecimentos/Acknowledgements
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Palavras-chave
Ba Ka Khosa,Mozambique,Ngungunhane,Metafição Histórica,Colonialismo
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