A crescente intervenção das câmaras municipais nos processos educativos formais expressa-se, entre outras dimensões, pela sua maior responsabilidade no planeamento estratégico das opções de desenvolvimento educativo locais. As Cartas Educativas Municipais e os respetivos Planos Educativos Estratégicos são um exemplo desses processos, claramente incrementado após mudanças na legislação que os transformaram de um instrumento meramente centrado na prospeção das necessidades da rede escolar face às projeções demográficas, em mecanismos políticos com profundas consequências sobre a igualdade de oportunidades educativas e a coesão social nos diferentes territórios. A elaboração das Cartas Educativas Municipais, num quadro de crescente complexificação da sociedade portuguesa, fez aumentar as solicitações a especialistas detentores de conhecimento técnico e científico na área do planeamento e avaliação de políticas públicas, entre os quais os sociólogos da educação. A participação da sociologia da educação em Portugal tem sido particularmente evidente, colocando a necessidade do questionamento das relações (de poder e legitimidade) entre poder político e ciência, pelo que importa refletir sobre a participação pública dos sociólogos e as formas de utilização do conhecimento científico. Utilizando como ponto de partida a participação na elaboração de diversas Cartas Educativas Municipais, esta comunicação tem como objetivo realizar uma reflexão sobre o papel dos sociólogos na elaboração das Cartas Educativas, nomeadamente na: 1) potenciação de uma reflexão crítica baseada em conhecimento centrada na importância da inclusão e equidade escolar; 2) promoção do debate acerca do contributo da educação para a coesão social dos territórios; 3) mediação entre atores que, embora pertencendo a um mesmo sistema, possuem interesses muitas vezes conflituais e que comunicam mal ou não comunicam.

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Sociologia da educação,Políticas educativas,Cartas Educativas Municipais