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S. Tomé (Ilha de São Tomé)
Teresa Madeira da Silva (Madeira da Silva, Teresa); José Manuel Fernandes (José Manuel Fernandes);
Título Livro
Património de Origem Portuguesa no Mundo - Arquitetura e Urbanismo.
Ano (publicação definitiva)
2010
Língua
Português
País
Portugal
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Abstract/Resumo
São Tomé - Cidade. Origem e localização - A cidade de São Tomé situa-se no arquipélago de São Tomé e Príncipe e é a sua principal cidade. O arquipélago divide-se em duas ilhas principais (a ilha de São Tomé e a ilha do Príncipe) e várias ilhotas, e foi território português desde a primeira ocupação até 1975, data da sua independência. O seu povoamento iniciou-se quando a ilha de São Tomé é doada a João Paiva em 1485, cerca de quinze anos após a sua descoberta. Situado no Golfo da Guiné, o interesse pela ocupação deste arquipélago desde cedo se afigurou favorável, por um lado, devido aos interesses económicos que a coroa portuguesa mantinha através do comércio no continente africano, e por outro, pelas viagens, no oceano atlântico, que os portugueses efectuavam no contexto dos descobrimentos, durante o século XV. A implantação do primeiro aglomerado urbano – a Povoação, foi condicionada por diversos factores. No sítio escolhido, junto a uma baía abrigada (baía de Ana Chaves), existiam boas condições para a criação de um porto natural. A topografia facilitava a implantação de pontos de defesa e a qualidade das terras proporcionava o cultivo de produtos agrícolas. Igualmente a proximidade de uma ribeira (ribeira Água Grande), facilitava o abastecimento de água potável às populações. O pequeno aglomerado, localizado a nordeste da ilha prosperou durante os primeiros anos em torno dos engenhos de açúcar e do porto, dando origem uns anos mais tarde, à cidade de São Tomé. Traçado e evolução da estrutura urbana - À semelhança das outras ilhas atlânticas de origem portuguesa o desenvolvimento da estrutura urbana é marcado pela presença da baía e da ribeira. Durante o século XVI foi instalado o núcleo de carácter civil e religioso em torno da torre do capitão e da igreja Matriz de Nª Sª da Graça e da igreja e hospital da Misericórdia. Com o surto de desenvolvimento económico provocado pelo comércio açucareiro e com o aumento de população, a cidade cresce para poente desenvolvendo-se um outro núcleo, de carácter mercantil, ligado ao porto e aos edifícios cujas funções com ele estão associadas - o edifício da alfândega e o edifício da feitoria. A estrutura urbana inicial desenvolve-se, assim, a partir de uma pequena rua, junto à costa e paralela ao mar que separa o quarteirão da Misericórdia do quarteirão dos edifícios confinantes com a torre. Esta rua liga o núcleo da Sé e da Misericórdia ao porto e constituiu o que se designou, segundo a planta de João Rozendo Tavares Leote (1788/1796) “Rua Grande”, e posteriormente “Rua Direita” (Brásio, 1955: 190). O povoamento inicial era, portanto, do tipo linear e fazia-se ao longo deste caminho que acompanhava a linha da costa. Este eixo é o elemento estruturador da cidade e é ao longo dele que se implantam os edifícios institucionais mais importantes da cidade: a torre do capitão, a Misericórdia e a Sé, ligada a este por um amplo terreiro; posteriormente a alfândega, a câmara e a cadeia e mais tarde a fortaleza de S. Sebastião para nascente e a igreja de S. João para poente. A rua Direita para além de ligar vários elementos urbanos de grande significado, estrutura uma malha urbana constituída por outras novas ruas que se cruzam com estas, mais ou menos na perpendicular. Cria-se assim, numa primeira fase, uma estrutura regular de quarteirões alongados, essencialmente constituídos por edifícios que serviam de armazém para guardar os açúcares e por edifícios pertencentes à alfândega podendo ainda hoje adivinhar-se através do traçado existente. Os lotes urbanos são paralelos uns aos outros e ocupam de um lado ao outro do quarteirão, tendo uma frente para uma rua principal e uma outra para uma rua secundária. Mais tarde assiste-se, durante o século XVII, a uma segunda fase de desenvolvimento urbano, marcada por uma malha regular que ainda hoje se reconhece na actual baixa de S. Tomé. A estrutura de quarteirão caracteriza-se pela existência de lotes com uma única frente virada para a rua, sendo que a outra dá para o interior do quarteirão. A forma dos quarteirões passa a ser mais parecida com o quadrado. Nesta fase de crescimento, o núcleo urbano estende-se para o interior e ao longo da marginal através da implantação de novas igrejas e pontos defensivos, como por exemplo: a igreja de Stº António, a igreja de Nª Sª do Rosário, a igreja de Stº Agostinho, a capela de Nª Sª do Bom Despacho, o forte de São Jerónimo (1613-1614) e o forte do Picão de Nª Sª da Graça, que se presume não ter sido concluído. Dada a localização destes edifícios é possível reconhecer uma rede viária em estrela que, a par com a ribeira que penetra para o interior da ilha, acentua esta tendência e fez com que o aglomerado se desenvolvesse para o interior. Posteriormente e durante o século XX o crescimento da cidade é marcado, por um lado, por importantes obras de saneamento associadas à existência de pântanos e ao aparecimento de novos bairros de vivendas isoladas, típicas do Estado Novo construídos sobre eles. São de destacar o antigo bairro Salazar (a norte), e o antigo bairro Marcelo Caetano (a poente junto à marginal) construídos nos anos 50 do século XX. Por outro lado, o aparecimento de novos edifícios de equipamento como os do antigo cineteatro, do arquivo histórico e do mercado municipal, entre outros, imprimem à cidade o cunho modernista próprio da época. Principais edifícios da cidade - Palácio presidencial - Situado no local onde, por volta de 1492/1493, foi mandada construir por Álvaro de Caminha a torre do capitão, o palácio presidencial é actualmente um dos edifícios mais importantes da cidade. Situado junto à ribeira, na Praça do Povo, este edifício destaca-se pela dimensão imponente e pela beleza das fachadas e do jardim que o envolve. Sé de São Tomé - Situada junto à Praça do Povo, a antiga igreja de Nª Sª da Graça, foi mandada construir no reinado de D. Manuel na altura em que Álvaro Caminha era capitão da ilha. Segundo se presume a actual Sé teve várias reconstruções a primeira, por ordem do rei D. Sebastião, entre 1576 e 1578; posteriormente, em 1814, por iniciativa de alguns habitantes da ilha, e mais recentemente em 1956, verificando-se algumas alterações na fachada principal. Antiga Misericórdia, actual tribunal - Situado mais para norte e por conseguinte mais perto da praia, em frente à Praça da Revolução, o actual tribunal localiza-se no antigo edifício da Misericórdia que foi constituído pela igreja e pelo hospital e mandados construir por D. Manuel em 1504. Na época em que foi construído, este conjunto situava-se num dos melhores terrenos da povoação, não longe da Sé e da torre, integrando o núcleo primordial da povoação. Fortaleza de São Sebastião, actual museu da cidade - Construída a partir de meados do século XVI (cerca de 1566), a fortaleza de São Sebastião situa-se no extremo norte da cidade. Tem a forma de estrela quadrangular com três faces voltadas para o mar. Segundo Lopes de Lima, a razão para a sua construção deveu-se ao conhecimento que o rei tinha relativamente aos ataques provocados pelos corsários franceses nas outras “nossas” ilhas atlânticas. Nele estão visíveis as estátuas dos três navegadores portugueses: João de Santarém, Pêro Escobar e João Paiva. Outros pontos defensivos - Para além da fortaleza de São Sebastião, foram instalados em 1613/1614 e em 1756 respectivamente, outros dois pontos defensivos, - o forte de S. Jerónimo, junto à Praia Pequena (actualmente em ruínas), e o Forte de S. José no outro extremo da baía, na ponta de Cabo Verde (praticamente destruído). Edifícios religiosos - Para além da Sé, existem várias igrejas que pontuam a cidade sendo as mais interessantes: a igreja da Conceição, próxima do centro, mandada construir pelo rei D. Manuel entre 1495 e 1521 e reedificada em 1719, a igreja de S. João (antiga igreja de S. João Baptista), construída em 1562 junto à marginal a poente da zona central da cidade, a igreja do Bom Jesus e a igreja do Bom Despacho (esta fundada por volta de 1617), ambas situadas junto à marginal, a poente do centro da cidade, e a capela de S. Sebastião construída dentro da fortaleza de S. Sebastião no início do século XVII quando esta foi edificada. Conjuntos urbanos - Situado na actual baixa de São Tomé, destaca-se o conjunto de quarteirões constituído por edifícios de dois, três e quatro pisos, construído entre os séculos XVII e XIX e marcado pela regularidade do traçado urbano. Este conjunto integra ainda hoje um tecido urbano consolidado e edifícios semelhantes aos edifícios construídos na mesma época no continente português. Para além deste, outro conjunto urbano situado na zona norte da cidade - o antigo bairro Salazar, revela interesse pelas suas características. Construído em meados do século XX é formado essencialmente por moradias unifamiliares típicas do Estado Novo. Edifícios modernistas - De cariz modernista destacam-se: o edifício do mercado municipal situado junto ao antigo frigorifico municipal na Avenida da Conceição, marcado pelos ritmo dos pórticos que formam as fachadas do edifício; o edifício do liceu nacional situado na Avenida da Armada, imponente pela escala do conjunto e equilíbrio da fachada principal; os edifícios do arquivo histórico e do antigo cinema Império (actual cineteatro Marcelo da Veiga), situados na Praça dos Heróis da Liberdade, ambos construídos nos finais dos anos 60 e recentemente recuperados; o edifício da Companhia Santomense de Telecomunicações, situado na marginal, marcado pelo uso do betão e pela acentuação da horizontalidade através da estrutura reticulada da fachadas e das coberturas planas e o edifício do actual Banco Internacional de São Tomé e Príncipe, situado na Praça da Independência, que se destaca pelo ritmo das varandas e vãos e pela escala do conjunto. Antigas casas coloniais - Situadas sobretudo junto à marginal ainda podemos encontrar algumas casas de um ou dois pisos, sobrelevadas em relação ao pavimento térreo, e construídas em madeira. Na sua maioria, a planta apresenta a forma quadrangular e o telhado é de duas ou quatro águas, incluindo, normalmente, varandas corridas em todas as fachadas. Há a destacar o edifício da actual embaixada de Portugal cuidadosamente recuperado e situado no cruzamento da Avenida da Armada com a Avenida Eng. Rebelo de Andrade. Espaços urbanos - jardins praças e largos. Não sabendo ao certo em que altura foram definitivamente estruturados os largos e as praças da cidade, podemos a partir de meados do século XVII, reconhecer um largo junto à Sé (actual Praça do Povo), outro junto à Misericórdia anteriormente designado pelo “terreiro da Mizericórdia” (actual Praça da Revolução). Estruturadas a partir das ruas e edifícios confinantes encontramos duas praças de forma rectangular perfeitamente definidas: uma junto ao cais e alfândega - a Praça da Independência, e outra próxima desta, a Praça da Amizade e Solidariedade entre os Povos, que inclui o jardim 1º de Maio. Junto à igreja da Conceição encontramos um amplo terreiro onde se realiza o mercado ao ar livre designado por Fela Ponto ou Feira Ponto. Também a actual avenida Marginal e o espaço que confina com a ribeira constituem espaços urbanos aprazíveis proporcionando leituras agradáveis da cidade. Bibliografia AMBRÓSIO, António - Subsídios para a História de S. Tomé e Príncipe, Lisboa: Livros Horizonte, 1984. BRÁSIO, António; (coligida e anotada por) - Monumenta Missionária Africana, Lisboa: Agência Geral do Ultramar, vol. VI, 1955. FERNANDES, Valentim [14-/1519) - O Manuscrito de Valentim Fernandes, (Leitura e Revisão de Provas de António Baião), Lisboa: Academia Portuguesa de História, 1940. LIMA, José Joaquim Lopes de Lima - Ensaios sobre a Statística das Possessões Portuguesas na África Occidental e Oriental; na Ásia Occidental na China, e na Oceania, Lisboa: 1844. MATOS, Raimundo José da Cunha - Corografia Histórica das Ilhas de S. Tomé e Príncipe, Ano Bom e Fernão Pó, S. Tomé, 1916. PEREIRA, Duarte Pacheco - Esmeraldo de Situ Orbis, Lisboa: Academia Portuguesa de História, 1988. SILVEIRA, Luís - Ensaios de Iconografia das Cidades Portuguesas do Ultramar, (Vols. I e II), Lisboa: Junta de Investigação do Ultramar, 1956. TENREIRO, Francisco - Cabo Verde e S. Tomé esquema de uma evolução conjunta, Praia: Imprensa Nacional, 1956. _, A Ilha de São Tomé. Lisboa: Memórias da Junta de Investigação do Ultramar, nº 24, 1961.
Agradecimentos/Acknowledgements
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Palavras-chave
cidades de origem portuguesa,São Tomé,morfologia urbana,arquitetura.