O presente artigo pretende caracterizar as transformações dos fogos de um edifício de habitação corrente do inicio do século XX, relacionando-as com a evolução dos respectivos agregados domésticos. A pesquisa centrou-se no estudo de caso de um edifício de tipo gaioleiro situado no Bairro Camões, em Lisboa, representativo do prédio de rendimento destinado às classes médias da Lisboa de então. O estudo baseou-se em entrevistas aos moradores do edifício e visitas ao interior dos fogos permitindo compreender que os actuais residentes se instalaram em dois períodos diferentes correspondentes, o primeiro, ao período entre as décadas de 50 e 80, e o segundo, ao período entre os anos 2006 e 2010. Verificou-se ainda que a estes dois períodos correspondem perfis sociais distintos, e diferentes níveis de configuração espacial e de distribuição funcional dos fogos. O primeiro caracteriza-se por uma população residente envelhecida, com um nível de instrução inferior que ocupam fogos que mantém a estrutura do projecto original de 1910. O segundo caracteriza-se por uma população residente entre os 30 e os 50 anos, com um nível de escolaridade superior, em que os agregados domésticos são de menor dimensão, permitindo que a configuração espacial se torne menos compartimentada, surgindo espaços maiores, mais permeáveis e com novas funções, como é o caso do escritório ou da “suite”. O estudo permitiu concluir que: 1) ao nível da configuração espacial, os novos residentes procuram espaços maiores e permeáveis entre si em detrimento de áreas muito compartimentadas; 2) funcionalmente assiste-se à socialização dos espaços de serviços, 3) as transformações espaciais observadas estão associada ao tipo de agregado doméstico residente e às fases da vida familiar.

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