O ponto de partida desta comunicação é a análise do rol do Comando da PSP de 152 estudantes detidos pelas 19h, do dia 16dez73, na sala sete de maio da faculdade de medicina, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Com idades compreendidas entre os 13 e os 23 anos (embora mais de metade se situasse na faixa dos 16 e 17 anos), habitando áreas centrais ou suburbanas da cidade de Lisboa, com origens socioculturais diversas e afiliações partidárias diversificadas, que iam desde o maoismo ao trotskismo, passando pelo partido comunista, estes estudantes, maioritariamente liceais, foram protagonistas de um dos momentos de viragem mais marcantes da história política nacional que afetou, de modos diferentes, a sua propria história individual. Para além da caracterização socio demográfica que este documento permite fazer dos adolescentes presos poucos meses antes do 25 de abril de 1974 através dos dados de identificação que ali constam (nome; sexo, idade, estado civil, frequência de ano de escolaridade, estabelecimento de ensino, filiação da maioria, naturalidade e residência) esta relação de individuos foi a base para o arranque de um projeto de investigação interdisciplinar (em curso) sobre o processo de construção de memória, por parte dos seus portagonistas vivos, não apenas do episódio em si, mas também do período que o antecedeu e o sucedeu. Através de uma metodologia de investigação humanista, colaborativa, etnográfica e histórica, baseada em entrevistas biográficas e autobiográficas, individuais e de grupo e pesquisa de arquivo, este projeto tem como objetivos principais: a) aprofundar o conhecimento e a reflexividade crítica sobre o(s) significado(s) associado(s) ao período ante e pós 25 de abril, dando voz às narrativas pessoais, por vezes dissonantes que visibilizam tensões e conflitos inerentes ao curso da história e da vida social; b) analisar como uma experiência juvenil de organização coletiva, na cidade de Lisboa, se ramificou e sedimentou em movimentos sociais e politicos que marcaram um período fundamental da história recente; c) identificar, compilar, recolher, classificar documentos institucionais e pessoais (cartas, fotografias, diários, apontamentos, etc), para além das entrevistas relaizadas, no sentido criar um acervo documental/ arquivo digital que concentre os materiais relacionados com este episódio sinalizador de um momento chave da história politica local e nacional.

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