Era uma vez Mundugaz. Narrativas de Ngungunhane em Moçambique e Portugal (1890-2022)
Este trabalho, inspirado nos modelos metabiográficos, propõe-se analisar as representações da figura de Ngungunhane, produzidas em Moçambique e Portugal. O período cronológico abrangido vai desde o ultimato britânico (1890) até aos debates na sociedade e nas letras moçambicanas contemporâneas. Recorremos à análise de conteúdo de documentos escritos, iconográficos, audiovisuais e também de ferramentas da história oral (entrevistas semiestruturadas) e da etnologia (observação participada). Pensamos contribuir para esclarecer: Que dinâmicas levam à construção dos heróis nacionais? Por que vias uma mesma personagem histórica pode encarnar valores sociais diversos e gerar leituras opostas? O que podem revelar as narrativas biográficas acerca do contexto em que foram produzidas? Com base nas fontes da época, examinamos o complexo contexto social português pós-ultimato que resulta na prisão e exílio da corte de Gaza. Já o Estado Novo encontra na prisão de Ngungunhane em Chaimite um mito fundador nacionalista no qual Mouzinho de Albuquerque representa o herói português civilizacionalmente superior contraposto ao negro selvagem e infantilizado. Ao contrário, para a FRELIMO Ngungunhane é um herói da resistência aos opressores colonialistas simbolizados por Mouzinho. Todavia em Moçambique a sua memória é ambivalente e perpetua clivagens étnicas de povos subjugados pelo Estado de Gaza. Atualmente, mantém importância, como demonstram os monumentos em sua homenagem, inaugurados em Chimoio (Província de Manica, 2021) e em Angra do Heroísmo (Açores, 2022).
Orientação:
Carlos Mauricio (CIES-Iscte)
Informação do Projeto
2021-01-01
2024-06-06
Parceiros do Projeto