PTDC/IVC-ANT/1108/2014
Vidas incertas: precariedade e novas condições de trabalho em tempos de crise
Descrição

Este projecto pretende discutir a forma como a incerteza – resultante da precarização das condições laborais – se tornou um elemento constitutivo do quotidiano, assumindo múltiplos sentidos e significados. Esta reflexão será conduzida observando diferentes contextos e actores em torno do trabalho, da família e do social. Esta análise será realizada numa pluralidade de contextos sociais (industriais, agrícolas e serviços; jovens e idosos; emigrantes e imigrantes; rural e urbano) para compreendermos a diversidade de factores que afectam as condições de subsistência quotidiana, por um lado, e identificar, por outro, as condicionantes que interferem com as escolhas, estratégias e possibilidades individuais num mercado laboral marcado pela precariedade. 

A imposição de um regime de austeridade como forma de combater a crise da dívida soberana portuguesa teve um impacto severo nos modelos de reprodução social. O país tem assistido a um aumento do desemprego e uma diminuição dos rendimentos das famílias e dos benefícios sociais, ao mesmo tempo que o custo de vida, os índices de pobreza e as desigualdades salariais e sociais aumentam. A instabilidade económica, profissional e social têm potenciado a generalização de um sentimento de incerteza, de precariedade e de perda de identidade.Em Portugal assistimos a uma flexibilização das leis laborais, sustentada por um paradigma neoliberal que, por sua vez, tem como resultado a percepção dominante de que os.os trabalhadores são os únicos responsáveis pelo seu estatuto laboral. Assim, a neoliberalização do mercado de trabalho com vista à recuperação económica do país veio alterar não só a relação empregador-trabalhador mas também os pactos sociais até então estabelecidos na sociedade portuguesa. Tendo isto presente, o nosso objectivo é compreender o modo como as pessoas têm vindo a reconstruir os seus projectos de vida, sabendo que a perda de mecanismos de sustentabilidade até então existentes fez surgir novas estratégias que permitem garantir a subsistência diária de pessoas, famílias e empresas. Queremos saber: De que forma as pessoas têm criado formas alternativas de segurança num contexto em que flexibilidade e contingência são palavras de ordem? Como se fazem planos e delineiam estratégias para o futuro com base num presente incerto? Como é que a crise económica e financeira alterou as percepções e o entendimento do que é a precaridade a partir do momento em que tem um impacto directo nos estilos de vida e na capacidade em perspectivar o futuro? Que novos vocabulários e representações surgiram em torno deste conceito, que agora se verifica transversal a todas as classes sociais, em virtude do desemprego ou do emprego precário ou sem vínculo contratual?

Apoiando-se em estudos anteriores sobre o impacto socioeconómico que a crise teve em Portugal, este projecto adopta uma abordagem centrada nos indivíduos por relação ao mercado laboral, tomando como referencia o período entre 2008-2018, por forma a:

1.       Identificar as alterações no mercado de trabalho, em particular as mudanças ao nível das condições laborais e de ingresso numa actividade laboral/remunerada; Documentar as expectativas e experiências individuais de participação no mercado de trabalho, com particular ênfase na compreensão do impacto da instabilidade laboral no sentimento de (in)segurança;

2.       Observar de que forma as pessoas enfrentam a insegurança e a incerteza no seu quotidiano e planeiam estratégias de futuro; recolher e analisar narrativas e histórias de vida que ilustrem a diversidade de experiências e mudanças decorridas neste período, com o objectivo de identificar as reconfigurações e ajustamentos familiares bem como estratégias de apoio vicinal;

3.       Descrever detalhadamente e de forma sistematizada a maneira como os indivíduos respondem à incerteza, observando em particular: a procura de trabalho fora da esfera das suas competências profissionais; o eventual retorno ao trabalho doméstico; as estratégias de resistência e resiliência; a adopção de modos de vida alternativos;

4.       Analisar como uma diversidade de grupos sociais – imigrantes, emigrantes retornados, refugiados, juventude, idosos, elite – dão resposta às mudanças que emergem nestes novos processos, tendo em conta variáveis como a idade, a experiência de trabalho, as trajectórias de mobilidade, e o género.

5.       Situar os dados recolhidos no contexto do actual estado da arte destas temáticas, promovendo o debate.

Para dar resposta a estas questões e cumprir os objectivos propostos, reunimos uma equipa de antropólogos com expertise alargada sobre crise e incerteza, relações sociais e desigualdades, economia de base, trabalho, parentesco e migração. Tendo em conta que pretendemos constituir um modelo alternativo para pensar esta nova conjuntura social, este projecto tem também a contribuição de especialistas em sociologia, história, direito e economia.

Parceiros Internos
Centro de Investigação Grupo de Investigação Papel no Projeto Data de Início Data de Fim
CRIA-Iscte Quotidianos, Políticas e Desigualdades Parceiro 2015-01-01 --
Parceiros Externos

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Equipa de Projeto
Nome Afiliação Papel no Projeto Data de Início Data de Fim
Antónia Lima Professora Associada (com Agregação) (DA); Investigadora Integrada (CRIA-Iscte); Investigadora Responsável 2019-10-02 --
Financiamentos do Projeto

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Outputs (Publicações)

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Dados de Investigação Relacionados

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Referências nos Media Relacionadas

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Outputs (Outros)

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Ficheiros do projeto

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Com o objetivo de aumentar a investigação direcionada para o cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável para 2030 das Nações Unidas, é disponibilizada no Ciência-IUL a possibilidade de associação, quando aplicável, dos projetos científicos aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Estes são os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável identificados para este projeto. Para uma informação detalhada dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, clique aqui.

Vidas incertas: precariedade e novas condições de trabalho em tempos de crise
2015-01-01
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