Este capítulo insere-se no debate sobre a persistência do lento crescimento dos salários e da desigualdade económica (OCDE, 2018; Nações Unidas, 2015), analisando o papel das políticas de desvalorização interna (Blanchard, 2007) implementadas nos países do Sul da Europa. Estas políticas intensifi- caram as trajetórias de liberalização (Baccaro e Howell, 2017) e fragilizaram o mercado de trabalho e as instituições de negociação coletiva envolvidas na determinação dos níveis salariais, distribuição de salários e peso dos salários no rendimento nacional (Álvarez et al., 2018; Cruces et al., 2015; Grimshaw et al., 2014; Müller et al., 2019). Esta linha de investigação articula-se com con- tribuições recentes de outros autores que examinaram o efeito das inver- sões políticas em relação às medidas de desvalorização interna e a margem de manobra disponível para os governos dos países periféricos sob as restri- ções da União Económica e Monetária (UEM) (Branco et al., 2019; Bulfone e Tassinari, 2020). Essa linha de investigação debruça-se sobre uma questão principal: que mudanças políticas foram relevantes (e em que medida) para reforçar as instituições do mercado de trabalho e o poder de negociação sindical, com potencial para fazer a diferença no combate à desigualdade? Ao longo do capítulo, consideram-se também contribuições que realçam os efeitos cumulativos e os impactos variegados das políticas de desvaloriza- ção interna na reprodução e expansão dos sectores de baixos salários e baixa produtividade e na trajetória da queda do peso dos salários no rendimento nacional (Teles et al., 2022).

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