Introdução: Dentro da estimulação cognitiva (EC) é necessário criar novas estratégias de intervenção para as pessoas com perturbação neurocognitiva (PcPNC). O Making a Diference 3 [Fazer a Diferença 3] – é um programa de EC individual (PECI) que pode ser implementado por um cuidador, em ambiente domiciliário. Este programa, traduzido e adaptado para a língua e cultura portuguesa, é uma intervenção estruturada com 75 sessões de EC e 13 princípios-chave que auxiliam o cuidador (Apóstolo, Silva, Bobrowicz-Campos, & Costa, 2019). Objetivos: Avaliar o impacto do PECI-FD3 na: (a) cognição, (b) sintomas neuropsiquiátricos e qualidade de vida da PcPNC, (c) no estado de saúde do cuidador e na sua perspetiva sobre a qualidade de vida da PcPNC, bem como (d) na qualidade da relação entre os elementos da díade (PcPNC e cuidador). Metodologia: Foi realizado um ensaio clínico randomizado (RCT), com 2 grupos. Um dos grupos foi sujeito aos cuidados usuais e o outro recebeu o PECI-FD3. A alocação pelos grupos foi cega. A intervenção teve a duração de 12 semanas. Os participantes foram sujeitos a 2 momentos de avaliação: pré-intervenção e pós-intervenção. Os avaliadores não tiveram conhecimento da afetação dos participantes a cada um dos grupos. As díades (cuidador e PcPNC) foram referenciadas por dois agrupamentos de centros de saúde da Administração Regional de Saúde do Norte. O identificador do RCT - NCT03514095. Resultados: Do total de 113 díades referenciadas, 52 cumpriam os critérios de inclusão. Destas, 28 foram alocadas no grupo FD3 e 24 no grupo cuidados usuais; 13 díades não completaram o estudo. A razão mais mencionada para justificar o abandono foi a perda de interesse por parte da PcPNC/cuidador em participar (30,8%). Dos que concluíram o estudo, 44,4% realizaram em média 3 sessões semanais. A análise por intenção de tratar, realizada com o objetivo de comparar o desempenho da PcPNC após a intervenção, revelou diferenças significativas entre o grupo de intervenção e controlo ao nível cognitivo (p < 0,01), para um tamanho de efeito de dimensão média (dcohen = 0,651). O PECI-FD3 também mostrou impacto na qualidade de vida da PcPNC, segundo a perspetiva do cuidador (p < 0,01), para um tamanho de efeito grande (d Cohen = 0,94). No decorrer do estudo, ocorreram alguns eventos adversos [morte (n = 1), institucionalização (n = 1) e hospitalizações (n = 3), mas nenhum destes eventos foi associado à intervenção. Conclusões: O RCT evidenciou efeitos da intervenção na cognição da PcPNC, bem como ganhos na sua qualidade de vida, na perspetiva do seu cuidador. No entanto, não evidenciou ganhos na gestão dos sintomas neuropsiquiátricos, incluindo sintomatologia depressiva, nível de dependência para as atividades de vida diária (AVD) e qualidade da relação entre os elementos da díade, nem no estado de saúde do cuidador. Pelos ganhos apurados o PECI-FD3, administrado no domicílio pelo cuidador, mostra-se uma intervenção promissora, com um potencial para ser explorada na prática clínica e em futuras investigações.

A pesquisa foi desenvolvida no contexto do projeto “Estimulação cognitiva em Idosos: intervenção na fragilidade cognitiva e promoção do autocuidado” [ECOG / 2015] e co-financiado pela Escola de Enfermagem de Coimbra.

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