Em 2022 comemorou-se o centenário de José Saramago, autor consagrado com o prémio Nobel da literatura. Analisa-se aqui a sua obra Levantado do Chão na sua componente de levantamento da história oral de uma vila alentejana. Quando em 1976 o autor se instalou no Lavre, concelho de Montemor-o-Novo, e conversou com os participantes no processo de reforma agrária em curso, recolheu um conjunto de memórias que usou na sua obra literária, publicada em 1980, contribuindo assim para o registo escrito da história dos indivíduos e dos grupos que constituíam aquela sociedade local. Duas décadas mais tarde entrevistei uma série de pessoas de diferentes grupos sociais intervenientes no processo de reforma agrária em Avis. O resultado do levantamento foi usado na dissertação de doutoramento e mais tarde publicado em livro: Memórias Alentejanas do Século XX, que nos divulga histórias de vida de uma geração em grande parte já desaparecida, que viveu o regime do Estado Novo em meio rural e participou ativamente na transição para a democracia. As entrevistas incidiram sobre as relações familiares, infância, condições de vida e trabalho, educação, habitação, vestuário. Apresentam-se aqui alguns exemplos de frases, situações e acontecimentos, assim como algumas tragédias e alegrias, que revelam as semelhanças entre a obra de Saramago e as Memórias Alentejanas…, com o objetivo de mostrar como fontes tão diversas como a história oral, a literatura ou a fotografia podem alcançar uma posição de relevo na construção de imagens e na descrição de realidades, enriquecendo a história e contribuindo para um melhor entendimento das vivências do interior rural do sul de Portugal e das transformações sofridas ao longo do século XX.

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