Na última década, temos vindo a assistir a um desenvolvimento desigual e hierárquico do território, que concentra capital humano, económico e financeiro em núcleos urbanos, em detrimento das áreas rurais. Partido da tese de que a hegemonia e colonização da paisagem sociocultural pelo “modo urbano” está na origem da marginalização económica, social e simbólica do rural, colocamos a questão: como podemos analisar o rural fora das lentes do urbano? Para responder a esta questão definimos os conceitos “rural” e “urbano” enquanto territórios – diferenciando-os pelas suas características físicas e demográficas – e enquanto modos de vida, diferenciando-os pelas práticas sociais, significados, lógicas de produção e de governança a eles associados. Através de uma breve análise histórica, e com base nas definições anteriores, identificamos três tipos de relações entre o rural e o urbano: (1) rural como oposto do urbano, (2) rural como parte do urbano, e (3) rural como alternativa ao urbano. Em seguida, focamo-nos na última destas perspectivas – por ser esta a única que permite observar o rural fora das lentes do urbano – e apresentamos exemplos de como se pode entender o rural fora desta dualidade, projetando-se assim como modelo alternativo de desenvolvimento.

Maria de Fátima Ferreiro e Rui Aristides Lebre pela orientação

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