Raul Lino assentou na “campanha da casa portuguesa” o laboratório de uma renovação da arquitetura moderna, visando “recuperar a harmonia perdida da paisagem, das cidades de Portugal”. Desentendido na apropriação que outros fizeram de princípios inefáveis do seu pensamento, culpou-os por “outra mascarada arquitectónica [com o] disfarce preferido [da] casa «à antiga portuguesa»”. Fortemente contestado pelos arquitetos modernistas, foi envolto em polémica, com pico na exposição retrospetiva da sua obra na Gulbenkian, em 1970. A que não foi estranha a publicação do ensaio “Raul Lino arquitecto moderno” de Pedro Vieira de Almeida, que inaugura o pensamento crítico sobre a modernidade do seu pensamento e obra. Com exceção de leituras esparsas, a ideia da construção de paisagem intrínseca à sua arquitetura não constitui objeto de investigação autónomo. Foi essa a nossa contribuição com destaque para casos de estudo que interpretam o seu projeto transversal de lugar, história e circunstância (Pereira, 2013). A pretexto da presente conferência sobre a obra de Lino em Abrantes, refletimos sobre a sua proposta para o Médio Tejo, particularmente devedora do “significado [da arquitectura] como padrão de cultura” (Lino, 1935), onde assenta o foco da linha de investigação “Raul Lino e a função cultural da arquitetura.”

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