Introdução: Os cuidadores familiares das pessoas com perturbação neurocognitiva (PcPNC) desempenham frequentemente funções colaborativas. Avaliar a qualidade da relação entre os elementos da díade (cuidador e PcPNC) poderá mostrar-se benéfico no planeamento dos cuidados. A Quality of the Carer-Patient Relationship scale (QCPR) permite avaliar a emoção expressa entre a díade, mais especificamente avalia o ponto de vista de cada elemento (duas versões). É constituída por 14 itens, sendo organizada em duas subescalas: proximidade/afeto e conflito/crítica (Spruytte, Audenhove, Lammertyn, & Storms, 2002). Objetivos: Traduzir e adaptar a escala QCPR para o português europeu e analisar suas propriedades psicométricas; ii) descrever as variáveis sociodemográficas e clínicas e analisar as suas correlações com a nova versão da escala. Metodologia: O estudo foi desenvolvido em duas fases. A fase I- consistiu na tradução e adaptação cultural da escala, realizada em quatro etapas (tradução, síntese, retroversão e nova versão consensual). A fase II - compreendeu o estudo de fiabilidade, aceitabilidade e concordância entre versões aplicadas à PcPNC e ao seu cuidador. A qualidade global de ajustamento do modelo, fiabilidade compósita das subescalas e validade discriminante foram determinadas pela Análise Fatorial Confirmatória. Correlacionou-se ainda as duas versões da escala e as suas subescalas com as diferentes variáveis sociodemográficas e clínicas. Resultados: A escala QCPR, versão portuguesa foi administrada a 53 díades (n=106). As PcPNC revelaram alguma dificuldade na compreensão dos itens e na distinção entre algumas categorias de resposta. Nas duas versões, as medidas de tendência central e simetria apresentam valores ajustados. Porém, a dispersão dos resultados foi fraca. Os valores de alfa de Cronbach foram de 0,89 para versão aplicada à PcPNC, e de 0,91 para versão aplicada ao cuidador. A qualidade global do ajustamento da escala QCPR, versão da PcPNC encontra-se entre sofrível a bom; já a qualidade global do ajustamento da escala QCPR, versão do cuidador, entre sofrível a muito bom. As maiores fragilidades vão para a subescala conflito/crítica, que apresenta três itens com fraca associação. Esta subescala apresenta também uma fiabilidade compósita aceitável. Já os valores de validade da subescala proximidade/afeto são mais consistentes. A escala mostrou-se sensível à idade do cuidador e ao grau de parentesco dos elementos da díade. Conclusões: A QCPR-P apresenta propriedades psicométricas consistentes para uma das suas subescalas. A maior limitação do estudo é o pequeno tamanho da amostra, que suportou esta fase de validação. É essencial o desenvolvimento de trabalhos futuros que permitam a continuidade deste processo de validação e que incluam amostras mais heterógenas de forma a contribuírem para a robustez psicométrica do instrumento.

A pesquisa foi desenvolvida no contexto do projeto “Estimulação cognitiva em Idosos: intervenção na fragilidade cognitiva e promoção do autocuidado ”[ECOG / 2015] e co-financiado pela Escola de Enfermagem de Coimbra.

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