Este artigo explora a interseção entre o trabalho de limpeza em universidades, a crise da habitação e as experiências de mulheres migrantes, enquadrando-a como uma expressão localizada de uma policrise global. Investigam-se relações entre trabalho e habitação das trabalhadoras imigrantes em Portugal através do caso das trabalhadoras de limpeza do Iscte. O objetivo é identificar trajetórias e narrativas comuns que podem abrir caminho para uma concetualização mais aprofundada do nexo entre migração, género e habitação. Através de abordagem etnográfica não convencional, formada para examinar as desigualdades sociais a partir do interior da universidade, o artigo centra-se em funcionárias de limpeza da universidade - muitas das quais são migrantes que vivem na periferia da cidade. A investigação explora a forma como as suas situações habitacionais precárias estão ligadas aos seus papéis laborais subvalorizados e de género, utilizando entrevistas e observação participante. O estudo sublinha a dupla invisibilidade destas trabalhadoras, cujos contributos são simultaneamente essenciais e marginalizados, refletindo uma desconsideração social mais ampla pelo trabalho de cuidados. Os resultados destacam o impacto sistemático da precariedade laboral e habitacional nas mulheres migrantes, particularmente aquelas envolvidas em trabalhos de cuidados e limpeza, perpetuando ciclos de exclusão social e espacial.

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